photo by João Paulo
Junto ao museu da electricidade, 17h.
- Tu estás bem?
- Tu? Aqui?
- Isso pergunto eu, o que estás a aqui a fazer?
- Vim apanhar ar e aguardar o por-do-sol no Tejo.
- O quê? Tens noção?... tu odeias essas coisas...
- Eu preciso destas coisas, não sabias? Mas bem, e tu? O que fazes aqui?
- Vim ver a exposição e até encontrei a Laura lá dentro.
- Ela está aqui?...vou-lhe ligar... ela não chegará a tempo mas assim que escurecer ainda nos resta a noite e tanta coisa...
- Tu estás bem? Já viste bem como estás...simples.
- Eu sou tão mais simples do que aquilo que possas imaginar.
- Hum...ok...mas se precisares de alguma coisa liga. Eu vou ter que ir a Santos mas de qualquer forma estarei por perto.
- Ok, obrigado, mas não será preciso.
O sol afundou-se, por fim, no Tejo. Um espectáculo glorioso a que assistia quando sente uma mão sobre o ombro.
- Laura?
- Sim, seu eu meu querido...mas fala baixo. É lindo não é?
- Incrível, ainda à pouco falei de ti e achei que já não chegarias a tempo...
- Achas mesmo que o deixaria desaparecer sem o contemplar no adormecer?
Existem certas coisas na vida que sabes bem que preciso. Esta é uma delas. E existem momentos perfeitos como este...em que te encontro a ti também aqui.
- Ainda seremos os dois animais feridos que se arrastam no asfalto lambendo as feridas?
- Não... hoje aquecemos assim a pele para que as fendas não demorem muito a fechar.
Sabes que não tiveste a culpa, não sabes?
Sabes que também eu não tive a culpa, não sabes?
- Sim... acho que tens razão.
- Tenho... e agora vamos, já escureceu e estou faminta. Vamos regressar à cidade e procurar os clarões dos candeeiros.