quinta-feira, março 26, 2009

The Keys

My Blueberry Nights

Elizabeth: Why do you keep them? You should just throw them out.
Jeremy: No. No, I couldn't do that.
Elizabeth: Why not?
Jeremy
: If I threw these keys away then those doors would be closed forever and that shouldn't be up to me to decide, should it?
Elizabeth
: I guess I'm just looking for a reason.
Jeremy
: From my observations, sometimes it's better off not knowing, and other times there's no reason to be found.
Elizabeth: Everything has a reason.
Jeremy: Hmm. It's like these pies and cakes. At the end of every night, the cheesecake and the apple pie are always completely gone. The peach cobbler and the chocolate mousse cake are nearly finished... but there's always a whole blueberry pie left untouched.
Elizabeth: So what's wrong with the blueberry pie?
Jeremy: There's nothing wrong with the blueberry pie. Just... people make other choices. You can't blame the blueberry pie, just... no one wants it.
Elizabeth: Wait! I want a piece.

quarta-feira, março 25, 2009

Breath


Deitou-se sobre a relva. Atirou o corpo já quente sobre o solo e desejou desaparecer.
O silêncio daquela morte é interrompido pelo som do piano.
Na casa ao lado, a cúmplice do crime chorava a sua vida sobre aquelas teclas que outrora serviram de festim a uma juventude inebriante.

Inspira. Expira.

A sensação absurda de angústia no peito esmagava-o contra a terra. Queria desesperadamente adormecer e acordar num momento qualquer que não aquele.
A música… o compasso…
Fecha os olhos e percebe o gesto das mãos dela, algures sobre aquele martírio de notas, pressente a dor.

Que lugar era aquele para onde viajara com ela?Que estariam a fazer entre as linhas daqueles lamentos num profundo silêncio em que o gesto e o olhar assumiam a voz.

Sente o peso do ar sobre a pele e o imenso calor de um dia estranho de primavera.
Recorda-se do tal Verão em que tudo estava certo e ela ainda cantava com ele a loucura de ser felíz.
As frases, os sons, o barulho na sua mente era mais que muito e os seus pensamentos, à velocidade da luz, colidiam com tudo e o seu peito cada vez mais esmagado.
Solta um grito em surdina e, na violência do elevar do tronco abre os olhos que reconnhecem a espiral.
Solta a respiração contida e com as mãos dormentes ainda consegue sentir aquele cheiro.
O cheiro da porta de madeira que sempre sentiu naqueles momentos sem nunca perceber o porquê.

Ergue-se e de pé olha para a janela de onde o som fugia em veneno.
O som pára, ela largou o piano e estendeu-se no chão.
Ele imrompe pela porta e corre até ao quarto. Faz as malas sem saber para onde ir e entra no carro sem olhar para trás.

Está agora no aeroporto, de braços abertos, deitado no chão branco, à espera que o vão buscar.


"I'm trying to find myself as a person, sometimes that's not easy to do. Millions of people live their entire lives without finding themselves. But it is something I must do. The best way for me to find myself as a person is to prove to myself that I am an actress."
by Marilyn Monroe

segunda-feira, março 23, 2009

Nantes me


Well it's been a long time, long time now
since I've seen you smile
and I'll gamble away my fright

and I'll gamble away my time

and in a year, a year or so

this will slip into the sea
well it's been a long time, long time now
since I've seen you smile

nobody raise their voices just another night to mourn to
nobody raise their voices just another night to mourn to


BEIRUT
...


É cândido. É tão cândido...
Fez-me "regressar" áquela época, lembras-te?
Um dia levo-o lá... faço-lhe uma surpresa e levo-o lá.
Acho que nunca imaginou que vivi naquela terra.
Quero que ele veja aquela terra, beba aquela água, sinta aquele cheiro... oiça o ventro entre as árvores colossais...
Dance até cair e adormeça ao sol sobre aquela pedra.
Que trepe aquela figueira e corra atrás daquela broa de mel.
Lembras-te como era naquela época?
Eu dizia que ía ser trapezista e tu... aquilo em que te tornaste hoje, uma nómada viajante sem tréguas que vive a vida tal como a aprendi naquele tempo.
É tão cândido, é tão especial.



sexta-feira, março 20, 2009

A Máquina do Tempo

photo by Amy Eckert
Não soube ao certo o que acabou por acontecer…
Deu-se conta que estava ali parado, com o a pouca luz que sobrava do dia a entrar-lhe em despedida pela janela, especado a olhar para a sua sombra sobre o chão de madeira.
Como se tivesse estado imóvel durante horas naquela exacta posição.
Sentado, no chão, sobre as suas próprias pernas. Como um corpo em oração de joelhos cansados que repousa o tronco sobre as pernas.

As fotografias espalhadas que tirara da caixa escondida atrás do armário. Uma das muitas “máquinas do tempo” que fechou em caixas ao longo dos anos para que um dia fosse surpreendido ao encontra-las.

Quando as criou, nunca terá pensado que se viria tão diferente e tão distante de tudo aquilo certamente.
Como a vida se mantinha verdadeiramente assustadora na sua velocidade e técnica de esquecimento.

Levanta-se e recarrega o som que, entretanto teria chegado ao fim. Senta-se na cama, de frente para a janela a contemplar aqueles pedaços de vida no chão.
Deixa-se cair sobre o colchão e de barriga para cima roda o corpo para ficar de pés virados para a cebeceira, e de cara suspensa no fim da cama. O sol… o que restava dele. Sobre a sua cara como se lembrou que fazia mil vezes naquela altura.

Fecha os olhos e adormece, na tentativa de, ao acordar, perceber que tudo aquilo não teria passado de um sonho. E de que na realidade o tempo não tivesse passado e ele ainda era aquele, com aquelas pessoas e aquelas imagens retidas agora no passado, espalhados no chão.

sábado, março 07, 2009

The Dream of Win and Regine


Fastigaste-me. És absurdamente arrogante. Currompes toda a verdade que envergas como uma bandeira com as descontroladas palavras e gestos em que manifestas a tua presença. És profundamente individualista e não medes o impacto do que dizes ou se medes ainda é mais assustador. Não consigo perceber como é que isso aconteceu.

Quando nos conhecemos, uma das primeiras coisas com que me fizeste pactoar fora a verdade. A absoluta e acima de tudo verdade.
Pois aqui a tens. A verdade. Quando me embrieguei e fui ao teu encontro naquela madrugada fabulosa tu eras outro. No dia seguinte mordeste-me o coração com aquele presente que até hoje não concebes o quão certeiro foi em mim. Aquela banda-sonora de uma vida que vivi em luto e renascimento.

Foste certeiro. O teu olhar. A tua voz. A imensa beleza que reconheci naquela tarde em que o teu perfil era coberto pela sombra das folhas das árvores que simulavam uma trama de
napron sobre a tua pele. Deixei-me ir. Deixei que me agarrasses o passo e parei para caminhar contigo. Fizemos amor pela primeira vez. O reconhecimento daquela que parecia uma já tão esquecida perfeição de encaixe entre duas peças perdidas, surpreendereu-me na manhã seguinte. A forma como os nossos corpos conseguiram aquela coreografia maravilhosa levantava a fantasia de que já tinham o destino do lado deles.

Eras tão infinitamente diferente de mim. Houve um dia em que a tua simples presença parecia recordar-me a memória da inocência que haviam manchado. Interroguei-me como era possível que alguém tão bonito como tu pudesse ter escapado ao estigma de uma época sórdida e sensual. Acreditei então na plenitude da diferença. Da imensa magia que se gerava por deixar todo o meu mundo e identidade para trás, e mergulhar no teu. De forma verdadeiramente disponível, de forma absolutamente crente.
Reparei em todos os detalhes e de todas as diferenças fiz uma mais valia numa prespectiva construtiva em que celebrava a existência de sermos eleitos. Contorci-me vezes sem fim naquilo que era o meu ar de conforto e o meu gesto de calor. Adapatei-me, esforcei-me. Acreditei que tudo fazia sentido porque senti que contigo poderia reconstruir, construir e viver uma boa história que eventualmente estava à nossa espera. E veio a surpreendente mudança de ti.

Sem aviso surge o teu avesso em combustão que questionava tudo num exercício alucinante de tudo quantificar para assim lhe poder dar um nome em que confiasses. Uma procura matemática descontextualizada em que aniquilavas meticulazamente cada molécula e partícula da forma ainda demasiado nova de mim em ti.
Surgem então as palavras do medo. Aquelas que a vida já me tinha mostrado em tempos e que me ensinaram a dar espaço entre elas e o corpo. Quando me divorciei de ti, no dia em que, curiosamente te iria pedir em casamento, fi-lo por nós. Não poderia permitir que me tivesses entre o ar que respiravas se, na confusão da tua cabeça, questionavas-me em ti. Dei-te espaço, tempo para pensar.

Eu estava por perto.
Até que subitamente, na mesma rua onde nos conhecemos, tu me consegues arrancar da multidão em festa e fugimos para tua casa. Não fizemos amor. O animal em mim revoltado pela sensação de despeito naquele rapto emergiu das cinzas. Passei a noite acordado. Pela madrugada fui-me apercebendo que não me respeitavas minimamente e que, com isso, nem fazias ideia de quem eu era. Não era minimanete coerente o teu sono descansado sobre o uso do meu calor gratuito que puxaste para a tua cama como se de um cobertor apenas me tratasse. Acordei-te e não fizemos amor, fizemos sexo. O único, por sinal, não perfeito entre nós. Depois do orgasmo senti um arrepio. Tu paraste e disseste: Que cara é essa?Não gosto nada de ver essa tua cara. Sinto-me estranho. O que se passa, diz-me.

E eu disse-te.

Tu eras afinal uma criatura muito diferente. Eras um clássico passivo-agressivo, que com os métodos mais retorcidos em voz dengosa, conseguira fazer-me sentir sempre o culpado.
Percebi nesse momento que eu afinal não era o mau da fita. Que eu era melhor pessoa do que tu… que eu afinal era mesmo boa pessoa e o meu único erro foi estar disponível e ter tentado ser maduro na construção de uma imagem que me iludiste que partilhavas comigo.

Repeti a pergunta em silêncio, somente para mim. A mesma pergunta que não me soubeste responder quando te sugeri o divórcio:

“Como é que se abandona uma pessoa de quem se gosta?”
Percebi a verdade da resposta que encontrei naquela noite. Repeti-a naquela manhã. Entrei no carro e abri as janelas até ao limite. Pela auto-estrada aumentei o som da música e senti-me livre como, contigo, me fazias acreditar que era errado em mim. Fui rever as minhas terras e passear pelos meus cheiros. Entrei em casa e matei saudades de Callas enquanto escolhia alguns bons vinhos para me retomar a cor do sangue. Sorri sem pedir desculpa pela beleza infinita que reconheço em redor de mim. Vesti-me a rigor e recebi os meus bons e velhos amigos que, na volúptia da noite, discturam sabores e gestos perfeitos em tertúlias leves. Sem pedir perdão reconheci-me de volta e percebi que tinha tido saudades imensas de tudo em mim. Silenciei os moralismos que nunca me pertenceram e desliguei a tua voz. Tenho saudades tuas. Mas a cada dia que passa, por muito que ainda te pertença, vou-te pertencendo cada vez menos.

Sabes, no fundo, que me assiste o direito de não correr mais atrás de ti e que para me agarrares verdadeiramente terás que ser tu a seguir-me e a demonstrar que fazemos sentido.
Quando te disse que seria a tua maior burrice se te encostasses nesse confortável âmago de tristeza e acabasses por me perder, estava a falar com a mesma verdade com que te conheci.

Hoje. Hoje, depois de falar contigo à pouco em que me desafiavas já para outra discussão, estou em paz. Porque sucumbi à beleza, ao delírio e até ao âmago…mas sucumbi à verdade absoluta em mim que me traz a felicidade de reconhecer que afinal ainda vivo a vida que quero.


“- Como é que se abandona uma pessoa de quem se gosta?
- Vira-se as costas lentamente e caminha-se em frente tão simplesmente assim.”



Ao som:



This is the Dream of Win and Regine

by Final Fantasy

quarta-feira, março 04, 2009

O Alfinete Mal-me-Quer.

photo by Muriel de Seze

Pressiona a tecla com a ponta do dedo mais fino, deixando todos os outros nove em suspenso. A distância que os separa do teclado é variável entre si.
Levanta a cabeça e olha pela janela.
Está um dia incrível em que sinte chegada a hora de partir.

Pela primeira vê a criança da casa em frente. Sempre soube que ela existia lá dentro mas nunca a tinha visto antes.
A misteriosa criança brinca no jardim com qualquer coisa de minúscula na mão.
Parece retirada de um livro infantil.
Usa umas collants auiz turquesa, de inverno, sob uma saia encarnada rodada, e do tronco apenas se avistam as mãos porque tudo se esconde por debaixo de uma capa branca, presa por um alfinete amarelo mal-me-quer. O cabelo, mal cortado, é mesmo escuro…
Quase tão preto como o pêlo do cão com quem fala.
Achou estranho… nunca a ter visto antes e já devia ter uns quatro ou cinco anos.

Senta-se à janela ao som de Anne Queffélec.
Percebe que se algum dia conseguir dominar o piano, é exactamente aquilo que quer tocar.

Acende um cigarro e deixa-se invadir pela personagem no outro jardim.
Um carro chega à sua porta. Estaciona e ele não consegue reconhecer o vulto no seu interior.
A campainha toca e ele ignora, deixando-se ainda assim visível ao estender-se pela janela com um pé suspenso no telheiro que avança sobre a fachada.
A pessoa fala com ele.
Ele não responde… ignora sorrindo.
Aumenta o volume da música e desejou ter uma daquelas coisas de fazer bolas-de-sabão.
A personagem desiste. A criança pára de brincar, atenta ao que se passava. A pessoa entra no carro, revoltada, e abandona a rua.
A criança sorri e volta a brincar.
Ele tira os óculos escuros e sorri também, e com a cabeça estendida sobre o para-peito finge adormecer ao sol.

terça-feira, março 03, 2009

Inquérito sobre anormalidades sexuais

LEIAM porque finalmente alguém chama as coisas pelos nomes!
(cliquem aqui para ler tudo, vale mesmo a pena!)

Clara Ferreira Alves


"A única coisa verdadeiramente anormal é estarmos, em 2009, enquanto celebramos Darwin e o evolucionismo e quando temos satélites e armas inteligentes, nanotecnologias e PET-scans, supercomputadores e o supercollider, YouTubes e ai-podes, andar a dizer a um grupo de pessoas ai-não-podes."

"O Bush andou oito anos a mandar nisto e a dar cabo de mundo e é despedido com elegância e sem ser removido com algemas, e duas criaturas do mesmo sexo não podem casar."

"Os resultados autorizam-me a falar em sondagem e a concluir que 99% da população portuguesa é troglodita, quase troglodita ou troglodita assim-assim. Os outros 1% ou não sabem ou são homossexuais escondidos ou, pior ainda, são esse híbrido que dá pelo nome de bissexuais e que tantos casamentos felizes e famílias numerosas destroçou."

Patti Smith

dream of life
um filme de Steven Sebring

No cinema, dia 5 de Março
Exclusivo // Cinema City Classic Alvalade
Av. de Roma, 100

Fui à festa de "tributo" a esta lenda conhecida como "madrinha do punk",
no SANTIAGO ALQUIMISTA e, se possível, não percam.

Sobre o documentário:

"O documentário maravilhoso e pessoal sobre a lendária rocker é tanto uma viagem ao passado de Patti Smith como um retrato da sua vida hoje."
in NEW YORK MAGAZINE

"Poucos documentários sobre artistas vivos entram tão profudamente na mente e nos corações dos retratados como este filme faz com a poeta e deusa do rock."
in NEW YORK DAILY NEWS