Tudo o que sabemos somos nós próprios encontra-se numa ampulheta de vidro, à distância de um movimento em que nos deixamos surpreender.
PHOTO BY DAPHNE O.G (source) | tumblr
Naquela noite, entre a massa cujas as caras reconhecia de tantas histórias, dei contigo em presença no meu corpo. Passou alguém com o teu cheiro que activou nos meus sentidos o calor do acordar ao teu lado.
Sentei-me num sofá rodeado de amigos que discutiam as diferenças entre a arte nos nosso dias, e as massas que visitam a exposição da Joana Vasconcelos.
Não me chateia nada, antes pelo contrário, que seja assim. Uns são os pseudo-eleitos eleitos pelo grupo minúsculo de “artistas” conceptuais, que escolheram uma contra corrente que se irá sempre debruçar sobre estados depressivos. Outros podem ser os eleitos pelas massas que, com todo o mérito, encontraram uma linguagem que comunica uma mensagem que e chega de forma eficaz às ditas multidões. E então? Não há espaço para todos? Lembro-me de há uns 12 anos atrás discutir isso mesmo com uma professora de história de arte, e impor-me numa posição democrática da arte e do real valor do artista enquanto comunicador. Venci a batalha naquela tarde. Mas não venci a guerra 12 anos depois naquele sofá.
Ao abstrair-me da conversa levantei-me e mergulhei na pista do Purex. Os corpos fundiam-se com o meu e as pessoas dançavam sedutoramente sem qualquer objectivo para alem do serem felizes no ali mesmo, no agora.
Semi-serrei os olhos e senti a força de uma vida que ainda me corria nas veias, e as células de memórias que davam consistência ao meu sangue. Estavas-me por toda a parte. Como se tudo tivesse sido desenhado para convergir naquela sala, naquele momento.
Aquilo era a arte em mim, que substituía a saudade que tinha de materializa-la pelos meus dedos. Aquilo era eu, sem tirar nem por. O prazer alucinado do sabor que as histórias me deixaram, o perfume carnal que evaporava da minha pele, o sabor do gin que me lambia os lábios e o orgasmo da felicidade de ter vivido tudo aquilo numa só vida.
Um dia, em minha casa, disseste-me: “se morresses amanhã serias uma daquelas pessoas que toda a gente recordaria como alguém que viveu bem, que teve uma vida cheia, e isso já ninguém te pode tirar.”
Ainda te amo, como irei amar para sempre, e no sempre viverá a forma como amo incondicionalmente todas as pessoas que amo ou amarei. Mas agora vou ter que ir ali ao lado, vou só ali para ser feliz.
Sem comentários:
Enviar um comentário