Sempre soubemos de onde vimos, sem precisar de tantas certezas assim em relação ao tão expectante “para onde vamos”.
Somos como filhos de pedras parideiras de ónix, que se predestinam ao um destino contrastante. Mas seguros de que, no fim, teremos recolhido as melhores tonalidades do mundo.
O que acontece é que somos e seremos eternamente os príncipes do tudo. De "tudo" faremos qualquer coisa. Sempre. E dançaremos sobre o "nada" com os bolsos cheios de coisas, em kimonos onde se escondem, nos forros, as mais extravagantes estampas, que discretamente nos descrevem crimes com a arte do outro lado. Perseguiremos a visão de Hokusai, quando nos tentamos consolar com os detalhes de Murakami.
Mas esse allure tem um preço. Que adoramos, ainda assim, por puro masoquismo.
A estação fria torna-se fundamental para que todos os cenários se alinhem com o luto do vinho e coreografia em nós. Tudo se assume e se organiza na mais perfeita órbita natural, todos os anos. É sempre assim. E não nos cansamos. Por vezes não somos mais aquilo. Não queremos ser. Mas ao repararmos bem onde estamos, percebemos a inevitabilidade da estação quente e de repente afinal... é só o Verão. O que também faz todo o sentido. Naturalmente.
Há um expressão orgânica que prolifera no nosso passo. Mudam-se as estações, mudam-se as vontades, os desafios e mudamos de casas. De espaços, de músicas. Tudo muda e nós assistimos a esse crescimento em nós de plateia. Sempre de plateia. O palco torna-se apenas e só um agente embaraçoso, para o qual deixamos o lugar a quem de direito. Os menos complexos. Os que, afinal de contas, só precisam de dizer ou fazer.
Nós não. Nós fazemos e dizemos sem precisar. Nós construímos a ação e o verbo ao sabor da nossa própria vontade naquele exacto momento. Provocamos a vida, e adoramos abanar toda e qualquer coluna que se assuma como vertebral por perto. Abanamos por saber que não cede. A vibração é afinal necessária para quebrar monotonias. Ou simplesmente porque afinal queremos revelar a nós mesmos, o que já suspeitávamos à muito de cada uma daquelas vértebras.
E depois viramos as costas e vamos fazer outras coisa qualquer. Vamos descobrir um restaurante novo que nos possa bajular com sabores, ou simplesmente ser leves sobre uma paisagem bonitinha qualquer. Eu ainda ontem dei comigo profundamente entretido a passar as mãos pelas cadeiras nórdicas que namorava online.
E dizer que isto é complexo é pura descrença no seu reconhecimento próprio de inteligência. É ser-se o mais aborrecido que possa existir. Porque não há na verdade nada de complexo aqui. É tão simples.
Ainda não me decidi ou encontrei entre o casamento e o divórcio, mas estava aqui a pensar... O que é que vamos vestir para a festa na terça? Apetecia-me um kimono novo. Preto, com estampas douradas e verdes. Mas vamos cedo por favor. Na noite anterior terei a estreia do Diogo no seu primeiro número de travesti e, sendo importante para ele, não poderei faltar.
Aquilo começa só pelas 3 da manhã. Ou seja, não dormirei nada nessa noite, vou trabalhar morto, e na noite seguinte lá estaremos nós.
A ver se hoje à noite penso nisso. Apetecia-me mesmo um kimono novo.
Mas bem... Olha meu amor, vou-me embora que tenho que ir buscar os sapatos que encomendei e ainda dar um pulo no lançamento de óculos da Joana.
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