sexta-feira, junho 24, 2011

To Build A Home



Entrei com a mesma convicção que sempre entrei naquele aeoroporto.
Sentei-me no mesmo banco que me sentei quando, com poucas malas, me larguei em Biarritz.

Ocorreu-me o sabor daquele vício cíclico a que cedo sempre que não consigo entender o amor.

Lembrei-me da fatalidade das palavras da Lea Doval, quando me ofereceu a sua companhia naquela tarde no Hotel du Palais.

Logo de seguida também me lembrei que o tempo era de facto um fenómeno atento na história da minha vida.

Fazia exactamente um ano que o meu corpo vagueava por aquela praia à procura de uma razão para voltar a Portugal.

Pensei várias vezes em levantar-me e dirigir-me ao mesmo balcão.
As caras já me pareciam familiares e o que isso tinha de reconfortante, tinha igualmente de assustador. O significado de estar ali mais uma vez, com a mesma sensação reflectia a fadiga no meu sangue, estimulava a humilhação sobre a minha própria figura.

Deixei-me ficar ali sentado mais um tempo... e o tempo foi passando.
Escureceu lá fora e os sons das chegadas já não se destinguiam das partidas.

Olhei para o telefone e contei as horas do silêncio.
Levantei-me e dirigi-me por fim ao balcão.
Regressei a casa e no caminho apercebi-me que ainda não estava certo do que iria fazer.
Tirei apenas uma mala do armário e deitei-me a seu lado.
Esperei por ouvir o telefone finalmente tocar e adormeci.


"I love you too."

quarta-feira, junho 15, 2011

Há dias em que um mundo virado do avesso também faz todo o sentido.

Photo source Hello From Lisbon

O despertador toca e, entre as ondas do mar que chagavam à minha costa ainda meio a dormir, chega a aquela voz quente que apela ao um Come on skinny love just last the year.

Estava uma luz absolutamente brilhante e eu saí de casa pronto para um pequeno-almoço inusitado.
9.30h na Confeitaria Nacional, mesmo aqui em baixo no coração da cidade, e chega ela com um ar desgrenhado.

A presença da noite naquela figura é inevitável mesmo numa manhã de Verão. Mas Joana não se desmonta na pose.
Lá se foram os brioches e as meias de leite e podíamos estar em Paris, NYC ou Milão. A contemporaneidade do sentimento ali assentava em qualquer lugar mas ficava ainda melhor exactamente ali, na maravilhosa Lisboa.

- Sexta quero-te lá na festa em homenagem à Marilyn.
- Esta sexta? Esta sexta devo estar a caminho do Alentejo. A Carina faz anos e em princípio será lá o aniversário.
- Não acredito. É com dresscode e tu vais perder uma grande festa.
- Acredito! E ainda por cima de homenagem a ela... a ver vamos!


Subiram a pé a Avenida da Liberdade onde foram prolongando a conversa em atraso.
Deixa-me à porta do trabalho e lá subo eu para mais um dia onde tentaria repor a ordem depois daquele meu escape de uns dias na praia.

A meio do dia agarrei-me ao telefone e, em busca da casa de sonho, redesenhei a planta de todo um imaginário feliz num futuro próximo. O Peter haveria de gostar daquele plano.

De volta à secretária e recebo uma mensagem de Isabelle: "Porque é que amamos Marilyn?"
E muito embora de Londres, para sempre de Paris, chegava o grito de quem vive silenciosamente atenta. Senti um frio na barriga e recordei-me do exacto momento em que lhe perguntei aquilo na varanda do espaço que agora homenageava a figura.

Era verdadeiramente surreal a sensação vertiginosa das voltas que a vida nos tinha dado para mais tarde nos retomar o lugar.
O amor pela tragédia e pela beleza que numa simples mensagem nos levavam de volta aquele Dezembro de 2005. Nada mais foi igual... e até hoje, seis anos volvidos, a realidade que construímos sucumbia ao silêncio dos segredos mais bem guardados do cinema.

O Vasco fazia-me falta mas estava finalmente a acabar alguma coisa a que se tinha proposto.


Ao descer a Avenida, já de regresso a casa, ligo à Piaf para saber como estava, e senti que realmente nisto a vida tinha sido feliz. Ali estava mais uma pessoa que fazia todo o sentido muito embora a tenha conhecido num dos ambientes mais absurdos por onde passei.
Só com ela faz sentido na perfeição uma dança lenta fumada com Golden Cigarretes.

Passo pelo Teatro Tivoli e deixo à esquerda o cartaz que marcou toda uma outra vida, que hoje mesmo se anunciava novamente apaixonada. O Lago dos Cisnes em cartaz.
Ainda guardo a preciosa caixinha de música que me recorda uma história de magia absolutamente inesquecível. E o Rui pareceu-me finalmente feliz.
Não resisti e voltei atrás. Trouxe o folheto e a promessa de que iria rever dia 27 ou 28 do próximo mês.

Ao sair encontro o Pedro, com aquele sorriso inconfundível, à conversa com um rapaz que timidamente lá se apresenta.
Hoje era um "jovem criador nacional" e até nisso o sorriso em silêncio me encheu o peito.
Um dia, estava eu a navegar por blogs e sites internacionais quando encontrei um trabalho dele. Naquela mesma semana a Catarina tinha-me perguntado, como quem pergunta a uma jovem alma o que há de novo, se eu não tinha novidades e eu falei-lhe dele por precisamente ter um trabalho interessante e ser português.

Uma semana depois era página do jornal para qual a Catarina o tinha entrevistado. Nessa semana mostrei o artigo a quem sugere, e pouco tempo depois aquele rapaz tímido aceitava o convite para integrar a semana de moda nacional.

Soube-me bem ele não fazer ideia de quem eu era ou tinha sido no seu percurso, e sobretudo de eu me sentir mesmo bem com isso. O efeito borboleta da vida em si mesma sempre foi uma das coisas que mais me agradou no "viver aqui".

Deixo-os e percorro o que resta do caminho para casa.
O telefone toca e o Ricardo dizia-me que me ia ligar mais tarde só para conversar. Agora não dava tempo porque estava a entrar para a terapia.
Às vezes dou comigo a querer conhecer aquele psicólogo que, de alguma forma, já deve achar que me conhece também.


Já em plena Praça do Rossio ligo ao Miguel e desafio-o para um café.
E mais uma vez o impensável morava ali. Disse-me que sim sem hesitar.
Anos e anos depois de toda uma história igualmente enriquecedora e finalmente poderíamos voltar a tomar um café e aproveitar a vida sob aquela lua fantástica.

Estava à espera dele em casa quando o telefone toca. Era o meu Peter que ao dedicar o dia si e ao amor que finalmente recuperou por si mesmo me diz: Só para dizer que te amo :)

Releio a mensagem e acho fascinante o facto ter passado o dia com a sensação que já não lhe dizia o quão gosto dele há algum tempo.

E o telefone toca novamente. E o insólito vive mesmo aqui. O Miguel estava lá em baixo para irmos testar o Terraço do Chão do Loureiro.

Estava fechado mas valeu a pena a vista.
Passámos no Chapitô mas estava cheio e seguimos a pé até às Portas do Sol.
Por lá ficamos com a Lua pré eclipse que marcava o Tejo e dois Morritos depois tudo fazia finalmente sentido outra vez.
Foi absolutamente reconfortante voltar a ter a companhia do meu "Mira Miguel".
Hoje sei que foi uma das pessoas mais marcantes da minha vida e o afecto que lhe tenho será eterno e incondicional.

Regresso a casa e tive direito a um concerto privado de guitarra pelas mãos do que é hoje um homem de sorte e outrora uma criança perdida. E revela-se mais uma momento de um amor incondicional.
Os acordes fizeram-me voar até S.Pedro de Sintra. Aos tempos em que se passavam as noites na Taverna dos Trovadores e a promessa de um futuro artístico e intelectual nos enchia os sonhos.

O telefone toca pela última vez e a Mrs.Delloway relembra-me o atraso.
Ligo à Carina a dar-lhe os Parabéns e fico estático no sofá a admirar a maravilhosa sensação de ter uma família insubstituível, onde o amor nos embala os dias.

E a vida, numa noite de Verão em Lisboa, mesmo que pareça toda do avesso continuará certamente a fazer todo o sentido.

LOVE YOU ALL