sábado, fevereiro 21, 2009

Let’s dance tonight


photo by Tiago Veiga
at Hotel Farol Design // Cascais

"Move your body
Get me from across the floor

Everybody’s watchin’
But I just wanna give you more
"


Uma tarde absolutamente perfeita.
O calor exacto, a brisa moderada. O mobiliário sofisticado. A paisagem absoluta. O Mar.
Saiu do quarto de hotel e entregou-se à esplanada.
Recosta o pescoço e fecha os olhos para que aquele ar puro lhe invadisse a cara.
O sol aquecia-lhe as pestanas.

- Boa tarde, vai desejar alguma coisa senhor?
- Sim… um copo de vinho branco, por favor.
- Concerteza.

O empregado, vestido de branco, parecia a única pessoa para além dele naquele imenso continente de água.
Quando regressa com o copo informa-o:

- Tem uma visita na entrada. Devo dizer que está a descansar ou acompanho-o até aqui?
- Quem é?
- Disse apenas que era o seu advogado.

- Meu advogado, que disparate. Hum… Ele que venha, obrigado.

- Concerteza.

Nem foi preciso mais do que um segundo para saber de quem se tratava. As formas estúpidas que as pessoas inventam para passarem despercebidas. Ridículo.
Avista então a personagem a chegar, acompanhado pelo homem de branco sempre simpático.
- Bom dia. Não será um pouco cedo para beber?
- Boa tarde e já passa do meio-dia. Senta-te.


O empregado interrompe para perguntar ao “advogado” se desejava alguma coisa.
Uma estúpida garrafa de água, tão previsível.
- Como é que sabias que eu estava aqui?
- Usas-te a conta da minha mãe.
- Ai foi?…como eu estava embriagado. Já passo na recepção para repor isso. Se bem que ela bem me deve isto e muito mais.

- Talvez não tivesse sido necessário vires acompanhado.

- Uhh… cíumes? Não te parece um pouco tarde para isso?

- Não estúpido, a questão é que, para variar, ela ficou a pensar que tinha sido eu.
- E poderias de facto… Mas não terá sido por tão pouco que aqui vieste.
- Foi, porque não é pouco. Como querias que não viesse cá? Tens noção da confusão em que me meteste?
- Porquê?

- Porque “a companhia” foi um homem. Um homem. E já deverias saber que até isso iriam dizer.
- Sim, eu sei.

- Sabes? Então porque o fizeste? Tu estás-te completamente a cagar para tudo, não estás? Não passas de um menino mimado que nunca tem que pensar nas consequências dos seus actos.
- Achas mesmo? Apesar de embriagado, meu caro, garanto-te que “as consequências” não me passaram de todo ao lado.


Bebe mais um pouco do fabuloso vinho que, de tão fresco, o fazia saborear cada molécula da sua vaidade.

- Com quem é que vieste?
- Queres mesmo saber?


E um sorriso verdadeiramente saboroso apodera-se do seu rosto. A vida tinha, de facto, momentos gloriosos de perfeição em si. O momento era tão emocionante que quase sentiu um arrepio na pele. Era a beleza da vida em si.
Era a realidade que finalmente se materializava depois da montagem da fantasia.
- Claro. Já agora gostava de saber com quem é que eu, supostamente, vim. Eu conheço?
- Sim…claro que conheces. Aliás, como te disse, poderias ter sido mesmo tu e não haverá forma de suspeitar que tenha sido eu se perceberes a naturalidade do momento.

- Não estou a perceber.

- Meu querido… na verdade, até poderias ter sido tu mesmo, porque eu trouxe o teu namorado.


O terror apoderou-se do cobarde que, mesmo envolto em pseudonimos, não consegui esconder o choque.
Matthew volta a recostar-se e termina o seu vinho.
Sorri e levanta-se abandonando o corpo petreficado no sofá.

- Vou ter que ir caríssimo. E não devias ficar desapontado comigo meu querido. Eu avisei-te. Mas olha, vou ter que te deixar. Deves estar a precisar de pensar e eu tenho que me preparar para mais logo. Hoje apetece-me dançar. Tem uma boa vida e, já agora, agradece à tua mãe por mim. O serviço aqui é fantástico.

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