Photo by ©Tiago Veiga
Enquanto esperava no aeroporto decidi ir ver livros.
Pensamos sempre que o que levamos na mão será suficiente mas ainda assim acabamos por não resistir aos mil estranhos expostos nas bancas que nos seduzem logo no primeiro travo de cada folha de papel.
Estava com um livro na mão, uma reedição da Graça Lobo ou pelo menos uma capa diferente com o mesmo título que tinha em casa e não consegui evitar a sorriso. Aquela força. Aquela forma encantadora de gritar.
Olhei para o relógio e ainda faltava o tempo suficiente para viver uma vida ali. Também coloquei a hipótese de imaginar viver as dos outros. O velho hábito de ficar sentado em silêncio só a observar a coreografia de um aeroporto.
Desta vez, ao pousar o livro, o surpreendido fui eu.
Por debaixo de uma edição manhosa de um autor inglês qualquer descubro o livro.
Não queria acreditar.
Agarrei-me a ele e rapidamente digitei no telefone o número que sempre soube de cor.
Chamou e chamou e nada!
Liguei para a Sarah...
- Estou? Não vais acreditar..
- Onde estás? Estás bem? Ninguém sabe de ti à meses... estás em Portugal?
- Sim estou bem mas isso não interessa nada, depois explico-te. Não vais acreditar..
- Mas espera... onde estás?
- No aeroporto, mas...
- Em que aeroporto?
- Ai, já te explico, mas ela publicou o livro!
- O quê? Não estou a perceber nada, quem?
- A Isabelle, achas normal?
- NãO! Como? Onde estás?
- Como pergunto-te eu! E agora?
- Ai.. calma... deixa-me pensar... onde estás? vou para aí...
- Não... e ela não me atende o telefone. E eu vou ficar sem telefone... ai.
- Mas já viste o livro?
- Estou com ele na mão. Queres melhor?
- Mas já leste? É muito óbvio?
- Ainda não li, vou comprar agora mas... lembras-te naquela fotografia?É a capa, e queres melhor?
- Aiii... NÃO!
- E a bold diz: baseado numa história verídica.
E o silêncio instalou-se.
- Sarah...? Estás aí?
- Desculpa... nem sei o que pensar. Quer dizer... faço as malas, não é?
- Calma... eu estou de volta.
- Paris?
- Lisboa.
- Mas não estavas em Paris?
- Depois explico... vai-me buscar ao aeroporto às 16h.
- Ok... mas... mas e vens sozinho?
- Sim. Depois conto-te. Serei só eu e ninguém sabe que chego hoje.
- Ok... e... desculpa.
- Não faz mal, eu percebo. Hoje já percebo... mas... depois falamos.
- Desculpa...
- Beijo, vou ter que desligar.
- Beijo.
Comprei o livro e não o abri até já estar em velocidade cruzeiro a caminho de Lisboa.
Havia toda uma vida para reviver naquelas folhas e uma vida para preparar depois daquele objecto.
Estranha forma de regressar - pensei. Mas de que outra forma poderia ser se não esta por inteiro?