segunda-feira, outubro 17, 2011

BERLIM I

Photo by Tiago Veiga
7'Julho'11

"Ontem foi o dia em que percebi que te teria que escrever.
Troquei de hotel para um bem mais simpático na zona nobre da cidade, mas ainda assim faltava-me qualquer coisa.

Quando se viaja sozinho, passados os primeiros dias de liberdade e entusiasmo, falta-nos sempre alguma coisa. Falta-nos sempre alguém.

Fui à Berlim Fashion Week e depois aproveitei para passear e fazer umas compras.
Passei um bom bocado no "Café Cinema", no Mitte.
Estava por lá absorver o quão familiar tudo me parecia, e dei comigo num regresso a Londres, numas das muitas fugas dos 20 anos.
Daquele café respondia ao telefonemas que procuravam soluções para o VFNO, e rapidamente me recordei que não estava ali de férias.

Chegaram dois rapazes com umas guitarras. Eu deixei-me estar a viajar pelos tons quentes daquelas paredes e pelas memórias de uma juventude móvel, somente com um cigarro e um sumo de maçã.
Tocaram três músicas do instrumental de Caetano Veloso e foram-se embora.
Eu fiquei ali. Estático no absurdo de todo aquele momento tão geograficamente improvável.
Na reacção à bagagem que me preseguia, decidi ir cortar o cabelo e levantei-me para que nada falhasse no evento de hoje à noite. Adoptei o corte de Berlim.

Regressei ao Hotel e fui mais uma vez sozinho à procura de um restaurante para jantar.
Sempre achei demasiado deprimente jantar em hoteis onde irei dormir.
Parei finalmente no Lieu - um restaurante Vietnamita com uma comida incrível.

Chega o meu copo de vinho tinto - um sul africano qualquer que passou a ser a minha companhia da noite - e ligam a música ambiente.
"Dance With Me Litle Stranger" pelos Nouvelle Vague, e não consegui evitar o sorriso.
Há de facto qualquer coisa de irónico nesta cidade.
Depois de uma refeição suberba regresso finalmente ao hotel e, pelo caminho, começa a chover. Não acelerei o passo... antes pelo contrário, e soube-me bem.

Hoje comecei o dia com a exposição que muita gente com quem nos cruzamos deveria vir ver.
Escondida na Jebenstrasse, dentro do Museum für Fotografie, está todo um universo brilhante de fotografias do grande Helmut Newton. É incrível o que não sabemos. Os anos 70 e os meados de 80 foram de facto extraordinários.

Agora mesmo, estou sentado na cafetaria da Bahaus Archiv.
Desde míudo que sonhava vir aqui e ainda estou em completo nirvana.
Acho que o dia de hoje trouxe uma nostalgia criativa que pressinto vir trazer-me algo de volta.
Quando te conheci eu ía ser o melhor designer além fronteiras... e de repente apercebo-me que nem sei como aqui vim parar."