Deitou-se sobre a relva. Atirou o corpo já quente sobre o solo e desejou desaparecer.
O silêncio daquela morte é interrompido pelo som do piano.
Na casa ao lado, a cúmplice do crime chorava a sua vida sobre aquelas teclas que outrora serviram de festim a uma juventude inebriante.
Inspira. Expira.
A sensação absurda de angústia no peito esmagava-o contra a terra. Queria desesperadamente adormecer e acordar num momento qualquer que não aquele.
A música… o compasso…
Fecha os olhos e percebe o gesto das mãos dela, algures sobre aquele martírio de notas, pressente a dor.
Que lugar era aquele para onde viajara com ela?Que estariam a fazer entre as linhas daqueles lamentos num profundo silêncio em que o gesto e o olhar assumiam a voz.
Sente o peso do ar sobre a pele e o imenso calor de um dia estranho de primavera.
Recorda-se do tal Verão em que tudo estava certo e ela ainda cantava com ele a loucura de ser felíz.
As frases, os sons, o barulho na sua mente era mais que muito e os seus pensamentos, à velocidade da luz, colidiam com tudo e o seu peito cada vez mais esmagado.
Solta um grito em surdina e, na violência do elevar do tronco abre os olhos que reconnhecem a espiral.
Solta a respiração contida e com as mãos dormentes ainda consegue sentir aquele cheiro.
O cheiro da porta de madeira que sempre sentiu naqueles momentos sem nunca perceber o porquê.
Ergue-se e de pé olha para a janela de onde o som fugia em veneno.
O som pára, ela largou o piano e estendeu-se no chão.
Ele imrompe pela porta e corre até ao quarto. Faz as malas sem saber para onde ir e entra no carro sem olhar para trás.
Está agora no aeroporto, de braços abertos, deitado no chão branco, à espera que o vão buscar.
"I'm trying to find myself as a person, sometimes that's not easy to do. Millions of people live their entire lives without finding themselves. But it is something I must do. The best way for me to find myself as a person is to prove to myself that I am an actress."
by Marilyn Monroe
by Marilyn Monroe
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