sábado, abril 18, 2009
Dancing with Birds & Killing the Crow
Pietro chegou finalmente de Paris. Mete a chave à porta e pousa as malas no corredor.
No aparador abre a carta com o recado do seu room-mate.
"Cheguei a casa e vomitei. Ontém. Devias ter cá estado.
Fui cortar o cabelo e já não regresso. Tens aí os convites para a festa e é lá que te espero.
A Laura vai-te buscar às 22h. Na cozinha tens um jantar pronto a aquecer que te deixei! Quem é amigo, quem é? Cruzei-me ontem com ela. Cabra de merda que me irritou! Hoje dou-te razão. Ela não faz mesmo ideia do que realmente está acontecer por isso fui cortar o cabelo.
I'm back on track my dear friend!
Lá estarei, já perdido certamente, pela noite a fora à tua espera na festa."
Olha parta o relógio e percebe que são agora 21h.
Estava definitivamente em Lisboa.
terça-feira, abril 14, 2009
Le Temps De L'Amour
- Estava a ver que nunca mais chegavas bitch.
- Nem me digas nada, rasguei as collants a sair do metro...
- Uh... Nem quero saber porquê.
- Antes fosse por isso, mas em 3 linhas que apanhei até aqui não vi um único que valesse a pena.
- E este sol? Que merda é esta assim de repente? Doi-me tanto a cabeça...
- De ressaca, pois bem. Eu avisei-te ontém. O que é que estás a beber?
- Nem me lembres, estou-me a sentir as tuas collants rasgadas.
- Cabron!
- Mojito.
- Da-me um cigarro antes que os fumes todos.
- Bem ontém onde foste parar que quando fui tomar o pequeno-almoço já tinhas o telemóvel desligado?
- Estava a contar "raxas do tecto"... Nem me faças lembrar, eu sou mesmo otária e achei que era desta que aquele merdas me conseguia surpreender.
- Eu avisei-te. Mais ou menos quando me avisaste que iria estar de ressaca hoje.
- Foda-se... E estas putas destas collants que foram caríssimas. Acho que ainda passo ali em casa da Isabelle antes de irmos jantar para lhe pedir umas emprestadas.
- Olha, e pede-lhe também o irmão... para mim, hoje bem que dava umas trincas naquilo.
- Vinho no metro e uma anormal de uma velha vinha a falar daquelas balelas à neta. As estações do ano e merdas dessas, o que traz cada estação...
- Já te consigo imginar com vontade de vomitar em cima dela com esse teu look narcótico.
- Não, e o pior é que não se pode fumar lá dentro! É se ao menos eu pudesse fumar aquela agonia passava.
- Meu amor, só te falta mesmo isso...
- Mas bem, a puta da velha não se calava e eu rapidamente comecei a pensar na vida pra ver se não sentia a voz dela cheia a entrar-me pela cabeça. E cheguei a uma conclusão.
No Outono tu apaixonas-te sempre e eu termino relações...
- As relações que começam no Outono estão traçadas ao infortúnio regado de drama de classe B.
-...no Inverno soltam-se os vampiros da noite e esta cidade vira um bordel onde nos encontramos todos. Parecemos animais loucos ou estamos numa relação que vale a pena pelo frio que faz lá fora e o calor que nos faz a companhia;
- E as putas fingem-se santas e as santas revelam-se putas.
- Na primavera está tudo maluco. Tu geralmente acabas as tuas relações de Outono e la vens com a mania de mudar de lugar, mudar de vida. E eu estou a ver se não me deixo levar pela multidão de andorinhas que me agitam as hormonas.
- Tu só podes é ser parva! Desde quando ainda tens alguma relação de jeito na Primavera. És a primeira a dar sinal...
- ...pronto, chega o Verão! É a liberdade total! Ja toda a gente se bronzeou e fez dieta. O mundo pode estar a acabar mas estamos todos super giros e prontos pra todas as festas. As minhas relações vão ao ar e lá embarco na multidão. Toda a gente dorme com toda a gente (que já sabe que vai repetir nas noites frias do próximo Inverno) e acima de tudo está tudo felíz!
- Moral da história?
- Não sei, não tem moral possível mas... quando é que esta merda deste calor e chuva desaparecem pra vir o Verão mesmo?
- Mais dois Mojitos por favor. Vende Lucky Strike?
Le Temps De L'Amour
by Francoise Hardy
As Libélulas de Lalique nos cabelos das mulheres de Klimt
O seu corpo estendido sobre o cadeirão, que arrastara para o sol que inundava o terraço, descansava as pálpebras que o separavam do mundo real e o mantinham a viajar pelo silêncio do sol sobre a sua pele.
Deslizava as pontas dos dedos sobre o braço de madeira daquele cadeirdão romântico que, com orgulho, tinha recuperado de 1948. A coreografia que desenhava faziam-no imaginar que conseguiria acompanhar os compassos da melodia, em piano, que tinha deixado a tocar no interior da casa e que o abraçava ao dançar pelas janelas.
O tempo era absolutamente inexistente naquele lugar.
Sente a presença da matriarca a aproximar-se pelas suas costas. O tecido que ela agarrava da longa saia, para que os seus passos não interrompensem a quietude, eram denunciados pelo seu perfume campestre que assumia naquele condado. A flor simples, amarela, que teria recolhido da floreira na fachada, girava em espirais entre os seus dedos. A plenitude de uma estação do ano que se enche de esperança pela fertilidade natural e pela fantasia de alegria contagiante pela cor e pele mais livre.
Silenciou o seu próprio pensamento e evadiu-se de si mesmo.
A sua própria beleza naquele momento trazia-lhe um antídoto para a dor que sentia.
“- Chegou a primavera, meu querido.
- Bem sei … não sei até se consigo resistir a esta sua chegada.
- Ora, ora… se há coisa que até tu me ensinaste é a não resistir à vida, sobretudo quando ela nos aquece assim a pele. Fecha os olhos va… abandona-te ao sol e deixa-te adormecer.
- Tens razão, afinal de contas, um príncipe ao final do dia...
- ... é apenas e só mais um príncipe.”
Adormeceu, por fim, com um sorriso imenso nos lábios. A vida, por mais voltas que desse, acabaria por lhe revelar sempre um recanto onde tudo lhe continuaria a saber sempre bem.
I tried to keep the crowds away
"Eras tão infinitamente diferente de mim. Houve um dia em que a tua simples presença parecia recordar-me a memória da inocência que haviam manchado. Interroguei-me como era possível que alguém tão bonito como tu pudesse ter escapado ao estigma de uma época sórdida e sensual."
(...)
Sem aviso surge o teu avesso em combustão que questionava tudo num exercício alucinante de tudo quantificar para assim lhe poder dar um nome em que confiasses. Uma procura matemática descontextualizada em que aniquilavas meticulazamente cada molécula e partícula da forma ainda demasiado nova de mim em ti. Surgem então as palavras do medo. Aquelas que a vida já me tinha mostrado em tempos e que me ensinaram a dar espaço entre elas e o corpo. Quando me divorciei de ti, no dia em que, curiosamente te iria pedir em casamento, fi-lo por nós. Não poderia permitir que me tivesses entre o ar que respiravas se, na confusão da tua cabeça, questionavas-me em ti. Dei-te espaço, tempo para pensar.
(...)
"Acordei-te e não fizemos amor, fizemos sexo. O único, por sinal, não perfeito entre nós. Depois do orgasmo senti um arrepio. Tu paraste e disseste:
Que cara é essa? Não gosto nada de ver essa tua cara. Sinto-me estranho. O que se passa, diz-me.
E eu disse-te."
(...)
"Repeti a pergunta em silêncio, somente para mim. A mesma pergunta que não me soubeste responder quando te sugeri o divórcio."
(...)
"Entrei no carro e abri as janelas até ao limite. Pela auto-estrada aumentei o som da música e senti-me livre como, contigo, me fazias acreditar que era errado em mim. (...) Silenciei os moralismos que nunca me pertenceram e desliguei a tua voz. Tenho saudades tuas."
(...)
Ao som:
This is the Dream of Win and Regine
by Final Fantasy
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