quinta-feira, junho 25, 2009

Lèvres Suspendues

14.79 carats diamond ring by Harry Winston
along with the 38 carats Christina Onassis diamond necklace


- Estás bem?
- Estou, preciso só de apanhar ar... obrigado.
E tu? Como estás?...não sabia que também vinhas.
- Eu vi... eu ouvi...

- O quê? Não estou a perceber.

- A vossa conversa. Estás bem?

- Que coisa feia andar a ouvir as conversas dos outros...
- Não sejas irónico... estava mesmo atrás de ti, não pude evitar.

- Podias ter evitado ficar a ouvir, mas não... as personagens que se estendiam à tua frente eram demasiado interessantes para ti.

- Não sejas estúpido... estás tão bonito...

- Obrigado, mas...
- "... limito-me a cumprir com a expectativa.", não é o que ías dizer?

- (sorriu)

- Mas conta-me, como estás? Tenho saudades tuas...

- Ai sim?... foi por isso que vieste?

- Também...
- Tu também me pareces bem. Vou buscar qualquer coisa para beber e fumar um cigarro ao terraço.
- É um convite?

- É uma informação apenas...


Desliza a mão sobre a mesa de apoio e contorna o sofá. Por entre os convidados, sorrindo, caminha até à mesa das bebidas.
Deixa-se ser servido e agradece com um sorriso mais do que previsível. Sente o cansaço daquela noite e dirige-se então ao terraço. No caminho é interpelado por Sarah que ostentava um enfeitiçante colar de brilhantes.

- Ora, ora... Onde pensas que vais sozinho?
- Sarah... estou sem palavras.

- É lindo não é?

- É um...?

- Sim querido, é mesmo. Esta noite o Duarte trocou-me por mais uma noite de, enfim, negócios e eu decidi não vir sozinha.

- Quando se vem com Harry Winston até podemos vir sós que a o mundo inteiro nos fará companhia.

- Como só tu me compreendes... sinto tanto a tua falta.

- Eu também. E nos dois sentidos.

- Eu percebi à pouco...

- O quê? também ouviste a conversa?
- Não. Bastou-me a devida distância de segurança e a linguagem gestual. Aliás, quem me chamou a atenção foi a Leonor...

- Que horror... Mas enfim, já passou.

- Terá passado?

- Sim, já foi embora, acho.
- (Num tom malicioso) Sim, mas não era a essa criatura infeliz que me referia meu querido, mas sim aquela que estava exactamente atrás de ti e com quem falaste logo a seguir.

- És incrível! Não te escapa nada, és absolutamente assustadora sabias?

- Sei meu querido, se sei... aliás, essa é só uma das muitas razões porque me amas.

- É verdade. Mas bem, deixa-me ir...
- Para o terraço?

- Como sabes?

- Daqui consigo ver quem te espera por lá. Toma, leva mais este copo, vais precisar.

Sorri, e cotorna o seu próprio tronco. Ao fundo o terraço e aquela figura solitária a olhar para si num silêncio de espera. Despede-se de Sarah e atravessa então a multidão, rumo ao único lugar onde se poderia ver a cidade por inteiro e sentir o ar daquela rua nocturna.

Agora...

"
- Diz-me... o que me querias?
- Quando?
- À dois anos atrás.
- Agora?
- Sim, agora.
- Tudo.
- Agora?
- Não, agora ... nada.
- Como é que viemos aqui parar? Que forma é esta de nos vermos?... diz-me, estou só.
- Não te sei responder a essa pergunta. E mesmo que faça uma ideia, agora, já não quero.
- Não fazes ideia de como está a minha vida...
- Pois não, mesmo assim.
- Estou na merda, percebes? Agarra-me, da-me atenção.
- Quando?
- Agora...
- Agora?... lamento.
- Tu mesmo disseste que nunca seria tarde demais.
- À dois anos atrás...
- Sim... mas o que mudou?
- Tudo, sabes bem.
- Porque não te desarmas e me abraças de uma só vez?
- Porque nem sequer estou armado. Porque, agora, já não te quero abraçar.
- Continuas cruel... como és capaz? Eu estou aqui! Aqui! Tens noção?
- Tenho a mais perfeita e clara das noções... e nela, também sei que não continuo cruel mas sim real.
- É uma vingança? Diz, eu sei que merceço...mas nao agora... por favor...
- Não. Por muito que te fizesse feliz a ideia, não é de vingança que se trata. Trata-se de amor.
- Eu sabia que ainda me amavas... eu sabia. Então que sentido faz agora não me perdoares e me aceitares?... por favor, estou aqui, aqui.
- Lamento. Trata-se de amor, sim... mas por mim.
- Como te atreves?
- A me amar?
- Não, a não me amares a mim depois de tudo.
- Precisamente... depois de tudo.
- Da-me uma oportunidade, perdoa-me...por favor.
- Estás perdoado à já mais tempo do que possas imaginar.
- Podemos sair daqui então? Vamos até minha casa, afinal de contas ainda não a conheces.
- Podemos. Mas não para tua casa. Nem juntos sequer para lado nenhum.
- É por isso que te odeio... porque é que a nossa relação é assim?
- Chega... já bebeste demais.
- Porquê? Tens vergonha de mim agora? Tens medo que alguém repare?
- Chega... vai ter com os teus amigos...
- Está tudo demasiado vidrado na sua própria vaidade, ninguém repara, não te preocupes. Vem.
- Está toda a gente a olhar discretamente para nós, chega... nunca gostei de cenas em público, sabes bem. Vai-te embora, a sério... não piores as coisas.
- Ainda há qualquer coisa entre nós, eu sinto.
- Há... de facto. Um profundo respeito por tudo o que vivemos em tempos, e uma dolorosa tristeza por aquilo em que te tornaste.
- Odeio-te cabrão. Odeio-te.
- Eu também te amei um dia.
- Quando é que isto acaba? Daqui a dez anos?... daqui a dez meses? Diz-me...
- Já acabou à tanto tempo.... va, já chega... Vai-te embora, por favor.
- Quando?
- Agora. "

terça-feira, junho 23, 2009

How it Ends



by DeVotchKa

Quente Sopro

Acordou de um sonho lascivo numa noite de verão em que o calor emergia pela madrugada.
Levanta-se e aquela imagem não lhe saía da cabeça.
Agarra no telefone e simula a marcação do seu próprio número. Sentia uma necessidade absurda de soprar aquele segredo que vivera enquanto dormira.
Fala como se para dentro de si contasse a verdade, na ilusão que de lá não voltasse novamente.

photo by Peter Turner

A tua pele era tão branca e suave. As tuas mãos eram fortes. Subjugavas-te numa dança curvilinea sobre o meu sexo. Entregavas-te a mim e denunciavas o prazer que vias reflectido no meu rosto. Era absurdo. Eles estavam a ver.
Quando eu me aproximei, tu estavas de costas como se não tivesses dado conta que eu estava ali. Entre a multidão puxaste-me com o teu braço contra as tuas costas, sem me olhares uma só vês. Viras então a cara e sorris. Como se nada mais houvesse a fazer para evitar aquele momento. Não nos valia de nada continuarmos a esconder-nos, muito menos de nós mesmos. O divórcio sentia-se marcado na tua cara. A dor de todo o processo não te permitiam fôlegos de extravagância. Foi tudo em câmara lenta. Como se o silêncio gritasse de alguma forma o teu desejo de me pertenceres para que eu te guardasse, agora para sempre. A tua pele tão branca. Os teus caracois loiros. O teu sorriso que revela aquele criatura adulta que ainda não desistiu de ser criança.
Noutro frame, já de olhos bem cravados nos meus, dizes-me num tom baixinho que precisas de dormir. O teu corpo chora e pedes que te abrace ao adormecer. Somos surpreendidos pela fatalidade do destino, pela clarividência contra a qual sempre lutamos... Somos surpreendidos por aquela fatídica noite de Verão em que, por querer, te despi e te guardei.


Congela-se a si próprio e, no verbalizar daquelas daquele sopro percebe o inevitável.
Pousa o telefone abre a janela.
Abre as portadas estendendo os braços no gesto. A brisa quase inexistente faz-se sentir, ainda assim, no seu peito, na sua cara.
A noite estava ainda demasiado quente para correr o risco de adormecer.

C860629