E não há nada como um boa carga de água em pleno simulacro de Verão. Sim, aquela molha e o cheiro a terra húmida quando já estás todo vestidinho à “chegou o Verão”! Essa mesma. Porque o que é que acontece a seguir? Desces a avenida cheio de frio cruzas os olhares de surpresa com todas as pessoas que também não contavam com aquilo, e não tens como te proteger. O caminho é longo e sabes que será inevitável o desvio. Não. Segues pela avenida abaixo e paras quando percebes que já não há nada a fazer. Olhas para cima e deixas que a água que se esgueira por entre as copas das árvores te invada a cara. Fechas os olhos e só existes tu e aquela musiquinha super hipster que trazes aos ouvidos. Sorris e não é por simpatia. É por prazer.
És assaltado por toda a merda que acontece discretamente na tua vida nos primeiros dias de Verão e de repente percebes que, para ser absolutamente perfeito, só faltava mesmo que estivesses na praia e dentro do mar quando aquilo está a acontecer. E não estás. Abres os olhos e segues o teu caminho encharcado e não evitas uma única gota.
De repente o Inverno veio só assim de fininho para te lembrar onde ías mesmo, e cais em ti.
Chegas a casa e ainda te consegues rir de ti mesmo, enquanto tomas aquele banho bem quente e pensas no que vais fazer para jantar. Foste tu e mais ninguém. Foste tu que optaste pela inundação em ti, e foi tão bom.
Anoiteceu, jantaste e a campainha toca. No intercomunicador ouves:
- Olá... É o carteiro da noite. Lembras-te?
- Estás a gozar...
- Não. Aterrei agora mesmo em Lisboa, estou com as malas na mão e vai começar a chover. Aceitas a encomenda? ... apesar de vir com 4 anos de atraso, eu sei.
- Tens noção do que estás a fazer?
- Sim... e só espero que me deixes entrar.
Abres a porta da tua casa e afastas-te pelo corredor. Ouves nas tuas costas os passos de um corpo a medo que pousa as malas no chão. Viras-te e assistes aquele momento em que a visita respira fundo, se enche de coragem, e diz: Tiago voltei.
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