quinta-feira, maio 22, 2014

Peaking Lights





Aquela miúda tem a cara e a liberdade da Maria Passos. quando tínhamos 14 anos e o movimento mental da Joana aos 22.
Sabes o que quero dizer? Não... pois não. Mas sei que perceberias depois de te contar. Que irias identificar as razões, sorririas em concordância e ainda troçarias da minha paixoneta pela Maria antes dos 15. Ela foi o meu par no jantar de gala aos 14. A Mica também, aos 13. Sim, anualmente tínhamos o nervoso miudinho na barriga quando se aproximava aquela data. Foram incríveis as duas. Mas eu na altura só me deixava perder no ar pela Marta. A miúda mais bonita do Liceu Francês que me fazia observar a sua própria leveza ao pisar a caruma do nosso pinhal. Eu era muito bom no badminton e ela sentava-se nas escadas à espera dos meus melhores lances.

Depois de te contar isto tu irias activar o teu modus operandi e irias exaltar o teu tom jocoso. Só para me dizer que era tudo um grande cliché. Naturalmente. Porque em ti mora ainda a necessidade estética de te indignares com as imagens que reconheces.
Correcto. Perfeitamente plausível ora não fosses tu um rebento de ónix que ainda não sabe a verdade sobre estas coisas. Eu podia-te contar a verdade. Saberia explicar-te aquilo que te disse que sentia ser o que nos distingue. A liberdade. A liberdade de tudo e sobretudo da roupa que cosemos anos em torno dos nossos corpos, para deixar bem claro quem somos e o que queremos ser aqui. A nudez imperial da absoluta segurança no seu todo, que assume os mais maravilhosos erros, é uma tendência que só se abraça quando se pode e não quando se quer. Mas para poder é preciso querer, e tu ainda sentes que gostas do aroma que vislumbras com toda a roupa. Cheiras bem, é um facto. Mas falta-lhe a madeira no travo, o ópio na memória, e o absinto no ar.
Estranho, porque agora mesmo vejo-te a rodopiar em torno daquele que só te poderá dar uma cerveja, uns cigarros e fazer acordar com a azia do absinto mais vulgar que arranjou para te manter ali. Estás por ali num movimento satélite em loop, do qual queres sair... bem sei.

Agora agarrava em ti e arrebatava-te, boa? Não ía dar, pois não? A jogada em ti é mansa e em silêncio não é? Deves ser cativado até te dares conta que já o foste, terás decidido algures no tempo que era assim que querias ser surpreendido certamente. Com toda a segurança do tempo e temperança de um alguém que tenha todo o tempo do mundo, e te faça sentir o protagonista da sua história também.
Para mim isso é só uma imagem criada por quem infelizmente se permitiu a ser mal-tratado. Por quem espera que o tirem de lá porque a preguiça e a inércia em si leva sempre a melhor.

Não és audaz. Não tem mal nenhum. És até um bocadinho maricas na verdade. Ainda tens medo de flores ou de ser visto aqui. Mas no sofá descontrais também é verdade. O vinho faz-te correr o sangue com uma temperatura mais humana e finalmente falas, aceitas e até concordas com algumas coisas. Nem todas, porque és demasiado jovem na maior parte do tempo, e isso provoca reflexos já mais do que automáticos que também não terão mal nenhum e por vezes alguma graça.

Lembras-te do Carlo Menta, não lembras? Duas ruas mais à frente existe um largo onde estarei a beber um gin na esplanada. Enquanto o ilusionista mórbido simula mais um truque parvo qualquer por umas moedas simples. Estás a ver onde fica não estás? O Grazie & Graziela.
É Verão e tu tens todo o tempo do mundo. Eu tenho a mochila pronta e vamos para norte, pela costa, e antes de chegar a Milão vamos parar no Como. Pode ser em frente ao lago, durante o jantar, que te explico o que aconteceu.

Tu até funcionas em teoria. Mas na prática estás imóvel.
Não te quero dar a volta. Não é preciso. Quando tu deres finalmente a volta vais reparar no que aconteceu e não precisarei dizer mais nada.

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