Apeteces-me porque quando me beijas a tua alma invade-me de dor e prazer.
Os teus lábios salgados são de uma carne imoral , que me acende uma memória de dimensão que calei lá atrás.
La La La Human Steps - Amelia
Os teus olhos de desdém reflectem o medo e o pavor de te deixares agarrar.
Os nossos corpos gritam assim que me dispo e o sabor da nossa pele liberta o ópio que tão bem reconhecemos de outra época mais reluzente.
Abraças-te a mim e encostas a cabeça no meu peito para conseguires farejar a segurança. Sentes-lhe o cheiro e olhas para mim sem palavra ou verbo, revelando a dúvida que te perturba.
Se eu te aturo. Se eu te aguento, se eu te seguro, se eu te agarro. Se sou eu. Se serei mesmo eu o teu agora.
Esfregas os olhos e finges acordar para aquele lugar onde tudo é mais frio e nada disso poderá fazer sentido, pelo risco que representa. Sabes no entanto que nesse acto só insistes em fechar os olhos na verdade.
Não sabes nada de mim e isso sustentem-te nas barras do teu tribunal insano, que só quer defender o caso de que não valerá nunca a pena viver em liberdade.
Não fodemos somente. Fazemos muito mais do que isso, mas no fim recorres com a urgência de uma vítima em fuga por aquele manto sobre as costas, que nunca te vai garantir a vulgaridade que preferias ver ali. E isso perturba-te até no gesto ou na coreografia quando te deitas ao meu lado.
Controlas o beijo e o sexo. Tudo o que consegues agarrar para não te deixares levitar.
Adoras com a mesma intensidade que mecanicamente finges detestar a minha insistência. Porque sabes o valor que ela tem mas não a consegues dividir nem multiplicar.
Tens medo da altura mas mascaras-te de pássaro sempre que fechas a porta da minha casa e me deixas lá atrás.
E depois lembras-te do gemido. Daquele momento em que te deixaste realmente viver e comigo a segurar-te os braços. O prazer, o sentimento. O florescer de uma dimensão intensa em que fechas os olhos e mordes os lábios em direcção ao tecto.
Corres para qualquer caminho que te entretenha o olhar e o pensamento. Anestesias-te quando consegues à mínima hipótese de seres confrontado com aquilo que vez em mim. Ás vezes o corpo e a alma atraiçoam-te mas no minuto seguinte sacodes a cabeça, e evocas uma música bem alta na tua cabeça para que essa imagem desapareça num instante.
Substituis-me por tudo. Calas-me as vezes todas que consegues e de cada vez só esperas que eu não diga mais nada a seguir.
Sentes a vertigem dessa mesma imagem que forças. A de eu ficar calado e desaparecer. Porque na verdade, tal como eu, tu um dia escorregaste na tua própria verdade quando me disseste que não. Não queres que desapareça.
Fica difícil, manter-me ao largo e ver-te a nadar à distancia.
Sabes que apesar de não haver qualquer razão racional para que aconteça, também não há nenhuma outra que realmente nos declare impossíveis.
Apeteces-me... e gostar não pode ter nada de errado.
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