quarta-feira, dezembro 20, 2006

Maps


Acho que fui muito antes de partir e sinto o desiquilíbrio do tempo agora sobre o meu corpo.
No fundo é disso que se trata… de uma despedida anunciada, de um âmago passado e de um futuro por escrever.
É tudo uma questão de tempo se tivermos a sorte de nos encaixar-mos nele.

Hoje acordei de uma forma estranha.
Uma dor de cabeça matinal anunciava uma morte mais do que prevista.
Nos últimos tempos tudo tem andado a mil à hora dentro dos meus dias em que a velocidade cria marasmos.
Nos últimos tempos os acidentes e as colisões teem sido uma constante entre este meu corpo e as muralhas do meu castelo.

E surges tu… tu que sempre respeitei e a quem sempre protegi com a minha distância.
Tu que reinas em terras de loucos e mantens marés de sangue ao som de tambores.
Tu cujo tango deixa, no ar, um perfume a morte, dor e prazer… delírio, combustão e pranto.

Terás sido, para sempre, das pessoas mais perto da felicidade de sucumbir na loucura que algum dia conheci.
Eu, por saber como aí se vive, talvez seja daqueles que mais resistiu a esse reinado.
Mas seremos, por mais que lutemos contra, eternamente reis desse mesmo veludo.
Seremos, por mais que rebentem mil imagens sobre nós, os melhores espectadores de nós mesmo. Os esternos perseguidores da nossa maior fragilidade, o belo.

Depois de horas a fio em que regurgitava a grande custo tudo e todos os que em mim viveram…
Depois de em cada espasmo reconhecer o o meu papel em cada fragmento…
Depois de horas de dores confusas e diagonósticos perdidos…
Depois de tanto em tão longas horas, sinto o silêncio de Toquio, o abismo daquelas escalas, o infinito daquele vazio tão cheio.

E surges tu, ao de leve, sempre baixinho…
Conduzindo, cambaliante, sobre esses saltos-altos, que nunca riscaram o meu chão em xadrez.
Sinto o perfume desses teus sapatos vermelhos e prevejo um magia nas tuas mãos.
Nelas trazias um caixa de música que, de uma forma nobre, procurei saber receber.

E não era preciso mais nada… estava lá tudo!

"Wait! They don’t love you like I love you."
Lá estava contido o teu grito que era a única coisa que eu realmente precisava ouvir.

Hoje altera-se então o rumo de muitas histórias.
Hoje, a noite brindará comigo aos novos tempos.

Hoje decidi que jamais te roubarei a vida como tantas vezes planeei.
Hoje, troco todas as lápides que sempre evitei por cada segundo de verdade a solo neste meu chão já tão riscado de tantos tangos só meus.

Hoje percebo onde existes e assumo que também aí terei sempre um canto… porque quero, porque já não o rejeito, fez parte de mim, e porque, como tu mesma disseste um dia “a morte fica-nos tão bem.”

E ver a nossa vida a coagular é, sem sombra de dúvida, o pior dos espectáculos em nós, e hoje agradeço-te infinitamente, por me o relembrares.
Por me mostrares o onde tinha eu o meu mapa escondido, por me o trazeres de volta, e sobretudo, por me recordares de mim.

E assim acho que fui muito antes de partir.

1 comentário:

AnaT disse...

Promete-me que uma noite voltarás e que os teus olhos pousarão nos meus de novo esta nossa loucura vertiginosa, esta paixão pela vida sem descanso e este nosso sorriso a tempo inteiro.
Eu acredito no fogo e na cinza dourada de nós próprios, em corpos incendiados de prazer, no pecado...Acredito em seres impossíveis, fantasmas e sonhos que nos devoram e nos fazem viver, na vontade... Acredito na poesia dos corpos, no vermelho e no veneno que nos corre no sangue a mil à hora...Acredito na magia do gesto, na volúptia da dança, na sedução da morte, no crime...Por isso acredito em ti.

Andarei pelo mundo sem mapas e sem bússola como só eu sei ser...irremediavelmente perdida, mas feliz por num frágil momento e delicado instante da minha vida ter tido por perto um milésimo da tua grandeza. (na verdade acho que não tens noção do seu tamanho)

Estou tonta com o teu brilho...Sabes bem que passaria noites e noites a aperfeiçoar esse diamante que te define a alma e sabes bem que as palavras são inúteis.

Não tens que agradecer. =)