domingo, dezembro 03, 2006

Quarto frio


O quarto ficou frio...
A noite congelou-nos o pensamento e o último raciocínio registado foi o pior.
Adormeceste e, às escuras, guardava-te mesmo ao meu lado.
As palavras rebentavam-me no estômago e o sangue fazia-me o corpo tremer.
Durante o teu sono tentei pensar...
Durante o teu sono tentei chegar a ti...

Sinto-me encurralado entre o que te provoco e o bem que me fazes.
Sinto-me injusto e cobarde por não ser eu a alterar o rumo das nossas vidas, mas sempre acreditei que os caminhos em comum devem ser decididos a dois.

Toca o despertador e a tua vida por ti proclama...
Deixando-me, mais uma vez, ao abandono de todos os gestos.
O teu despertar violento, seco e frio nem te fizeram reparar na mesa que tinha preparado enquanto dormias.
Teria sido possivelmente, mesmo que breve, um pequeno-almoço quente.
Saiste e começou a chover...
Ao som, ouvias as palavras que tememos por nós.

Ainda não toquei em nada daquela mesa...
Amanheceu, passou o dia e já anoitece...
A estúpida esperança de me ver surpeendido pelo teu regresso deixam-me a contemplar o pequeno-almoço que, em silêncio, ainda espera por ti.

E hoje sinto as 3 badaladas do número 3.
As crueis toneladas de som que me rasgam a pele e perpetuam a minha forma de ser.
Onde me perdi eu para me confessar ao teu ouvido enquanto dormias?... perdi-me em ti e sei que podiamos ser melhor.
O quarto continua frio... e eu "pensei que se falasse era fácil de entender".

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