domingo, fevereiro 18, 2007

Como cegos



"E hoje percebi que ainda te amo.
Hoje assumiste que ainda me amas.
Hoje percebemos que o amor que afogamos cobardemente ainda subrevive a nós mesmos.

Os corpos que assumimos e os quartos distintos que acolhemos como novos não conseguem calar, a tempo inteiro, os gemidos deste sentimento só nosso.

A voz da consciência tudo nos varre e a força dos nossos braços em tudo se gasta neste suicídio líquido a que entregamos a nossa história.

Todos os filmes parecem falar de nós… todas as músicas parecem cantar-nos.
E só nós, os cegos, empenhados em cumprir o dever, não percebemos que ali existe. Um fragmento a descoberto que um dia, talvez um dia, nos traga de volta aquilo que fomos e nos varra a nós do amor que hoje fugimos, e que nunca deveria ter sido afogado.

Que o tempo nos sare as feridas em aberto. O âmago deste sofrimento tão coberto de mantos de veludo.
Que no regresso todos os diamantes tenham caído por terra… e que brilhem apenas os reais, os que reflectem a força e a vida deste, que embora fora de tempo, o tempo encarregará de nos mostrar ser o nosso amor.

Hoje deito-me sozinho porque já mais nenhum corpo estranho aguento para cobrir a dor.
Hoje deito-me no frio onde morrerei com a esperança de te ouvir acordar-me.

Talvez um dia… sem saber, “talvez”.

Amo-te… e como cego, com dor, nunca te o disse. "

18 Fev.2007

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