quarta-feira, janeiro 21, 2009

Ceci n'est pas une pipe


photo by Hulton Archive in Getty

Ora ora…
Não rodopies com a língua sobre os lábios que alguém te pode achar guloso.

Não tragas uma caixa de bon-bons com fechadura.
Podes até divertir-te com a hipotese de te imaginares a massacrar uma criança com um rebuçado. “Toma, não…olha agora, ops..não podes comer. E já agora, não contes a ninguém.
A criança pode, sem querer, dar-te uma dentada impulsiva na mão, e deixar-te marcado. Ou pode simplesmente ignorar a oferta porque rapidamente percebe o seu preço.

Nem tudo acontece como prevemos e esse risco que se toma, por si só, já vale a pena tanta coisa.
Nem tudo o que parece é.
Às vezes um perfume entranhado num colarinho pode ser a marca fatal de uma traição, bem como apenas e somente um aroma que ali se alojou, sem qualquer intenção para além do descanso.

Às vezes podemos seduzir o mundo inteiro e adquirir o pronome de “sedutor” ou simplesmente não termos culpa de absolutamente nada. O risco de sermos acusados de algum crime que não cometemos aumenta apartir do momento em que estejamos presentes na cena deixada.

Um corpo abandonado e enerte no chão, pode passar de um simples cadáver a uma verdadeira armadilha. Ou não, simplesmente, as circunstâncias de uma vida levam a que esse exacto momento aconteça sem razão nenhuma aparente. Ou será que, a ser verdade, tudo acontece por uma razão… nem que venhamos a percebe-la mais tarde.

Nunca se sabe… porque na verdade até o dito “pipe” nunca foi, na verdade “une pipe”.

Na manhã seguinte acordei no hotel. A vista para o Tejo fazia-me inspirar como se fosse um exercício veneratório. Dei comigo, às tantas, já no jardim a tomar o pequeno-almoço (mais do que tardio) e a pensar: “O que fui eu fazer?

Mas se pensar bem, na verdade… eu não fiz nada.
(e neste momento um sorriso malicioso apodera-se da minha cara)

Não sei ao certo do que se trata, nem quero, na verdade, saber.
Só sei que se trata de qualquer coisa que, no passado, ficou marcada para um dia qualquer mais tarde.

E até mesmo neste momento, em que sobre a cama adormece o “corpo que temos em comum”, continuo sem soltar a “frase solta”… porque assim permanece como um simples e singelo objecto de arte, tão frágil e etéro como álcool.


C860629

1 comentário:

Pedro Espírito Santo disse...

Como gosto de te ler, miúdo...