terça-feira, fevereiro 28, 2006

Red Dress


Correm ondas desiguais sinto que nada me apraz.
Hoje dediquei o dia a mim. Não ao costume de “mim” em que vou às compras, ao spa e me mimo até não aguentar mais o banho de beleza. Também hoje fui às compras, é um facto. Mas em nenhum momento fui ao cabeleireiro, ou ao instituto de beleza para me mimar física ou “metaforicamente” – sendo esta a último, no fundo, certamente a mais real.

Fecha-se a porta e solta-se a loucura. Vem o silêncio de que tanto preciso e penso.
Inevitável o destino destas vozes. Todas elas ecoam no meu cérebro ao mesmo tempo, mas já sei para onde me querem conduzir. Não, nego-me a esse raciocínio. É mais calmo e é de calma que quero povoar a minha noite.

Hoje recusei os vários convites para as inúmeras festas que reinam na cidade. Festas de Carnaval para quem se cansou de máscaras não será o melhor caminho.
Mas contenta-me a fulia em que estão. Vivam-na, sintam-na, divirtam-se…gritem, bebam que nem isso eu posso fazer esta noite.
Os comprimidos a que esta carcaça recorre para se aguentar já nem me permitem o prazer de uma boa taça de champaghe mesmo que sem morangos com chocolate.
Era mesmo isso que me apetecia…porque raio me fui lembrar?

Ouve o que eu já sei dizer: Não!
Soa de uma forma estranha, não soa? Mas faz-me bem, eu acho.
De alguma forma o “mudar” é um termo que me agrada, mesmo que esbarre contra os meus hábitos mais cravados.
Na verdade hoje não me apetece dançar, seduzir, ser visto, tocar e ser tocado por ti, por todos ou sequer por uma conversa ou bebida qualquer. Hoje estou estranhamente sereno, estranhamente em paz.

“Há dias em que não cabes na pele com que andas”
Apaguem as luzes, guardem as máquinas, desliguem o som, recolham a passadeira… hoje a Marilyn não sairá à rua. E no máximo convido um de vos a ver um bom filme com a Norma.

“Parece que pagamos os pecados deste mundo”
Pequei sim. Sou pecador, e com muito orgulho, é um facto.
Sim, tens razão, só pago os pecados que, contra mim mesmo dirijo. Terás razão. Mas hoje estou tão sereno que até me encho de cortesias e te dou razão. Estranho não é?

“Cada um tem a sina que tem.”
E é disso que eu sei que queres ouvir falar, mas não. Não falarei, vim aqui só de passagem, só dizer “Olá” e nada mais.
Por acaso sinto a tua falta.
Desse brilho, desse glamour, desse encarnado sempre presente…dessas jóias, desses saltos, dessas pele, desse calor que tão poucos perceberam serem verdadeiramente reais.
A futilidade em nós era uma diversão e não uma prisão como para tantos os que nos rodeiam. Será tão difícil perceber isso?

“É condensar o mundo num só grito.” Será para sempre a expressão dessa tua existência em mim. Ou na nossa existência em nós.
Um dia a vida cravará os nossos nomes nalgum lado. Não como uma história perfeita, porque, felizmente não o foi. Mas graças a ela estou aqui hoje, lúcido e feliz. Com os pés bem firmes e a língua sempre pronta.
Por mais corpos que se fundam com os nossos jamais será o mesmo. Será sempre “de outra forma”…e serão formas também elas felizes, mas sempre, e mais uma vez felizmente, diferentes.

E pensar que tudo isto começou pelo cruzar de uma conversa engraçada. Estava a falar com o Mr.Silence quando ele me falou de ti mesmo sem o saber. O encarnado e a descida elegante pela escadaria foi o mote. Como a vida é uma forma, só por ela, já inteligente. E como usa o tempo com as coincidências mais irónicas e saborosas a nosso favor.
Estou assim, estou assado. Vou passar à laranjada. Hoje o champaghe não me ficaria nada bem.

A todos, a ti: fugi mas ainda existo. Mais tarde ou mais cedo volto, não esperem muito.

1 comentário:

Héliocoptero disse...

Citas alguém que te deixou uma marca e respondes, mas respondes bem. Cabeça erguida e sem medo de olhar para trás e aprender ;)