quinta-feira, outubro 15, 2009

A vida, às vezes, acontece.


Não. Não és previsível... És uma obra serena que, na tempestade, consegue erguer muralhas gigantes. O defeito nessa obra é um imenso sucalco causado pelas chuvas de uma vida em que gostas de te passear descalço sobre a calçada. Só que a calçada não é tão afável como a area da praia onde imaginaste a eternidade.

Uma vez vi um menino todo contente por ter chegado à cidade. A "adultez" do seu olhar naquela noite de verão que se escondia entre os caracois dourados de uma criança naife, fizeram-me rever uma vida.
Naquela noite devia-lhe ter contado que às vezes o segredo que se esconde por detrás desta cidade é simples... "A vida, às vezes, acontece."

Naquela noite eu tinha acabado de chegar de Paris. Naquela noite morava em mim a velhice de uma Nounoune mas mesmo assim decidi sair e dançar pelos mesmos rodopios.
No chão encontrei uma peça amarela de um puzzle que outrora pertencera a um conjunto de cúmplices de Lalique...

Ergo a cabeça e encontro a voz quente na multidão. Aquela que mora conosco e cedo porque nos embala. Um mar feroz em revolta contido contra o imenso vidro do teu olhar. A tua pele que bombeava gemidos... aquele abraço interrompido pelo medo.

Lembras-te das libélulas de Lalique nos cabelos das mulheres de Klimt?
Apeteceu-me agarra-te e levar-te até lá para sarares essas feridas que não deixas a céu aberto.

Tenho-te trazido no pensamento e tenho-te abraçado com cuidado desde então. Adormeço e lembro-me da tua cara, da tua voz... guardo-te.

Trago-te guardado contra os meus braços e, no múrmurio do silêncio, susurro em tranquilidade - vai correr tudo bem, eu estarei mesmo aqui.

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