terça-feira, novembro 14, 2006

Autumn Butterfly


O cenário estava montado.
O palco iluminado e os lugares todos reservados.
Esperava-se um grande espectáculo… Estava um público atento sedento de glamour.

O cheiro das tábuas, a densidade do ar…
As memórias de outros textos, as recordações de outros gestos, estavam ali.

A sós, com tudo em silêncio, desce da torre e desliza até à multidão lá fora.
Estavam outros corpos, que em nada se realcionavam com o evento, simplesmente, a passear por perto, na mesma calçada.

Matthew, saíra.
Atravessando aquela multidão de habitués deixa por sobre a passadeira todas os figurinos.
Serve-se de uma bebida no bar, e no reflexo, percebe o cansaço da sua maquilhagem.
Pede um lenço ao garçon, molha-o no balde de gelo, e em frente a todos limpa a pele.

O barulho da ansiedade naqueles corpos não lhes permitia sequer ouvir a razão.
O portagonista estava ali também…a desventrar a personagem mesmo sobre os seus olhos. Bebia também ele champaghe, brindava também ele pelo espectáculo que iria acontecer.
Mas só ele sabia a verdade da surpresa… só ele conhecia a temperatura daquelas tábuas forradas a luxúria.

Sorri para um dos empregados, que, coitado, servia um bando de inúteis, e despede-se com o olhar.
Atravessa sorridente a multidão e chegue à porta principal por onde sempre entrou.
Naquela noite tudo se sabia verdadeiramente bem.
Sente o toque da passadeira vermelha nos seus pés e o reflexo das suas mãos nos pilaretes dourados.
Ergue a cabeçae deu o primeiro passo no sentido do acaso.
E o acaso abraçou-o e conduzio-o ao edifício da liberdade… onde tudo e todos eram novos, onde tudo e todos eram mais simples…onde se corria a rir e não se ria a correr.

Nasce assim qualquer coisa de novo, morre assim, de alguma forma, qualquer coisa de velho.
São as odes de inverno que preparam o caminho com as borboletas de Outono…são as formas de vida que lhe rebentam no corpo as veias ensaguentadas que se cansaram de tanto veneno.

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