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Hoje recomeço tudo de novo.
O Inverno já se foi e com ele levou o adormecimento da minha pele.
Ontém foi, de facto, o primeiro dia do resto da minha vida.
Estavamos para ali sentados, nas tão calorosas espreguiçadeiras a deixar que o sol invadisse os nossos corpos. Tudo parecia não fazer qualquer sentido a início. Como é que estavamos para ali sentados, em silêncio, simplesmente a apanhar sol e a olhar o mar, com tanto para fazer.
Saimos daquele espaço gélido onde reparamos que vivemos há já quase cinco anos e fomos, como sempre, almoçar a qualquer lado. No caminho, como já é hábito, eu adormeci.
Acordo com o teu “Bom dia marido!”…lol… só tu mesmo para me acordar de uma forma tão diaparatada! “Onde estamos?” – perguntei eu – “Não faço a mínima ideia, decidi entrar neste parque porque estamos perto de um sítio onde te quero levar!Surpresa!” – respondeste tu com aquele ar alucinado de uma pulga cujo sorriso parece o de um infantário inteiro aos pulos.
Subimos as escadas do dito parque de estacionamento subterraneo e “plim”!A Surpresa afinal não fora só minha… tu também não esperavas encontrar aquele micro-clima, aquela “bolha” na cidade.
Parecia-nos uma rua nalgum bairro italiano ou até mesmo, com algum jeitinho, parisiense. Estavamos no “esconderijo” da Bacatela. Sentados na esplanada de um restaurante italiano a degustar umas massas quaisquer as nossas caras encontravam-se estupidificadas. A cidade ainda nos surpreende e sobretudo a ti que tanto a odeias.
À conversa sobre todos os males e virus que nos rodeiam, sobre todas as coisas que não compreendemos à nossa volta acabamos por não chegar a conclusão nenhuma senãos às nossas já tanto marteladas.
Depois dos cafés veio o impulso. E lá estavamos nós, dominados pelo teu espírito naife, a enfiar o nariz em todos os cantos daquele esconderijo! Foi tão bom. Cor-de-rosa a mais para o meu gosto, mas assumo, foi mesmo bom.
Nas traseiras do teu prédio, já com o carro estacionado o calor e o cansaço começava a fritar os nossos neurónios. Tinhamos tanto para fazer mas os nossos corpos não agiam.
“Vamos à praia?”…
E em dois segundos lá estavamos nós…fáceis de nos desviar um ao outro mas sempre seguros de que estamos bem.
Depois do verdadeiro safari naquele piso do demónio lá conseguimos largar o carro e descer até à esplanada. Espreguiçadeiras eram o nosso objectivo.
Um café, uma groselha e muitos cigarros depois estavamos para ali, atirados ao silêncio do bem estar. O mar refrescava-nos as ideias e as “novelas” à nossa volta faziam-nos rir.
Fechamos os olhos e deixamos que o sol nos queimasse a pele. Era como se de água para chocolate cansado se tratasse.
À memória tudo surgia como se de pedaços de fitas de 8mm se tratassem. Os frames eram mais que muitos mas respeitavam a velocidade de cada um.
Recordava o fim-de-semana surreal que tivera e nele percebia o inevitável. Era a morte, era a vida.
Subitamente o silêncio foi-me interrompido por mais uma surpresa fantástica. De Berlim ouvia a voz do “meu Diogo” como gosto de dizer. O sol batia-me na cara com a força e o vigor de uma vida feliz. Ao ouvido tinha a voz meiga e sempre afável dele, no canto do olho tinha-te a ti “Sapatilha” a reagir às “novelas” que nos circundavam…e à frente o mar, a nossa casa!
Ai que me soube tão bem.
Não fiz nada de produtivo o resto do dia, mas pensei.
Ontém foi, de facto, o regressar da Primavera que tanto apraz este bicho de Inverno em que me tornei. Hoje o sol está mais uma vez presente mas temos que produzir qualquer coisa para variar um pouco.
Seja como for, chegou a Primavera e com ela o virar da esquina ao fim da rua.
Até logo, até sempre…estou de volta e agora sob uma nova forma de pele, de ossos, de mim mesmo… Estou feliz!