sexta-feira, março 24, 2006

yellow line



E se eu fecha-se a mão e, movido pela velocidade assassina do teu cérebro, dirigi-se o punho ao teu estômago?
Aos poucos vais reagindo ao menos provavel dos seres nesse teu universo.
Aos poucos sabes que te observo e que te consigo ouvir.

Subitamente estavas ali… no local mais inesperado, a fazer o menos provavel de ti.
Surpreendente forma de mudança. Admiro-te, admiro-me.
Em tudo e com tudo és um ser bizarro.
Hoje não está sol, mas sente-se o calor, a humidade que insite em se fazer senir na minha pele. Estranhamente isso não me irrita. A Primavera ja chegou e começo a sentir que este tempo vai mudar. Este e muitos outros. Aproxima-se a hora de cometer uma loucura, correr um risco…

Em tempos alguém que me conheceu bem dizia
“Vives permanenetemente sobre o risco amarelo. Danças em bicos dos pés uma dança que te enche de prazer e aos outros seduz. Danças sempre, entre variações de intensidade, correndo todos os riscos de perder o equilíbrio e cair.
E se cais?Para que lado será dessa estrada?Em que sentido fica o teu corpo no asfalto?… Nunca pensas sem agir nem nunca ages sem pensar. Mesmo que o traço não seja contínuo tu percorrers, incansável kms e kms, o traceçado aos pulos para que tunca toques no alcatrão.
Vives sempre sobre o risco. Vives assim um grande circo em que o teu lar é o trapézio.
Pensa bem onde te leva esse risco e pensa bem nos riscos que ele te faz correr.
Não te quero ver parar mas também não te quero ver morrer em bicos dos pés.
Mas que digo eu afinal?…a quem digo eu isto?
Seria a tua morte não é?
Na verdade bem sei que é esta a tua forma de viver e que de outra forma o teu sangue parava nessas veias tão salientes de gastas.
Pois então dança, pula, sempre em bicos dos pés… e se algum dia caires limita-te à imitação de qualquer mortal – levanta-te!”
E hoje sinto que, ao olhar para ti, que não vivo só este meu circo. Tu também o vives, à tua forma, noutra tenda, mas da mesma forma… sempre em bicos dos pés.

1 comentário:

Anónimo disse...

Tinha que partilhar isto...

«Meu Fruto de Morder, Todas as Horas» - excerto

Al Berto

"Não temos nome. dormimos no mesmo leito de algas sabiamente tecidas, somos a matéria envenenada da noite e o cuspo dos sexos. a água no incêndio nómada dos corpos. e a escrita...

A cidade ressoa de longínquas vozes. dentro do quarto o tempo parou. só eu continuo acordado e escrevo. a luz incerta da alba pega-se aos corpos, mancha-os. os cabelos de Pirolito cintilam. loirinho entreabre os lábios e respira devagar.
juntos devoramos o mel e o sonho, com uma pantera prateada no umbigo."