domingo, maio 28, 2006

Emabalo a 3


Ontém foi uma noite estranha…
A agitação corrente era-nos cortada pelas rasteiras desta cidade.
O irónico e descabido tomava conta de nós.
Os novos porteiros da cidade não nos conheciam porque vinham de longe.
Os espaços longínquos que nunca frequentamos recebiam-nos de braços demasiado abertos.
Somos felinos de outras arenas…mas ainda assim teve graça.
Nos corpos reinava o cansaço de uma noite quase perdida.

Hoje ao sabor do calor que caía sobre esta cidade todos os porteiros nos iriam receber… mas hoje, em nós, não cabiam grandes excitações.
E lá estavam os três, quase famosos, em busca de rigorosamente nada.
Cigarros, cafés, martinis e raciocínios elevados sobre planificações complicadas tinham ficado no teatro.
—“Apetece-me passear de carro pela cidade” – disse, formosa, a Madame Savant Abri.
—“Why not?”
…e lá foram, ao sabor dos devaneios naifes da Mademoiselle Vert Citron que, como um real coker se comportava de língua de for a ao vento pela janela do carro.

A cidade trazia luz ao “não pensar em nada”… o abrigo em nós suportava-nos porque mais, na verdade, não era preciso.
As luzes arrastadas pelo semiserrar dos olhos deixavam que o silêncio das músicas vãs nos inundassem de tranquilidade.
E foi tão bom.

—”E agora?”
—”Eu hoje ía pela marginal…apetece-me.”
—“Vamos…”

Marginal a dentro lá foram eles…praias, carros, pessoas que, às 3h da madrugada continuavam a perceber que, noites quentes como esta, não podem ser vividas a sós.
Minutos, músicas, fumos de cigarros que dançavam no silêncio do “não vazio” celebravam a vida de alguma forma que até mesmo a nós nos passava ao lado.
Não por lhe sermos indiferentes mas por nela, em consciência, reconhecer-mos o valor de todos os momentos, mesmo os tão triviais ou sem, aparentemente, nexo nenhum.
E é assim que a liberdade se manifesta em nós… é assim que, em nós, tudo e nada faz sentido de qualquer forma, em qualquer lugar, ao som de uma música qualquer.

Um grande bem haja a vós e que a noite vos embale como me embalam em todos estes momentos.

1 comentário:

Picasso disse...

Bem haja para ti também.