sábado, maio 06, 2006

Vestido de Negro


Vejo corpos a boiar na piscina.
Sob o olhar atento dos ecos destas paredes refugiava-me, sem modos nem maneiras, com gestos coreografados, numa taça de mousse de chocolate.
Sempre me soube bem o exagero de me sujar de doce.
O telefone tocou e senti o cheiro do acender de um cigarro.
Subi as escadas e o som que, em gemido, trespassava aquele quarto era o que tenho eleito nos últimos dias.
Sexo.

“Amor ao Canto do Bar Vestido de Negro”

Sentiu o sabor do vinho que, mais uma vez, tomavam os dois, mas a três.
Sexy, por curiosidade, era o seu nome… magenta, por ironia, era a sua cor.

Depois de um valente estômago que, por sado-masoquismo, mais uma vez, ela lhe dera, ali estavam… sem aplaudir, como se de esculturas se tratassem, no meio da multidão em euforia.
Tinham acabado de ser, de facto, esculpidos.
Os seus corpos estavam imóveis pela dor que mais ninguém tinha percebido naquela loucura sobre o amor.
Os seus pulmões sangravam pelo pânico da inteligência.
Os seus olhos estavam estáticos naquele universo do gesto.

A saliva parecia inexistente na tentativa de criar palavras que exprimissem o ódio pelos seus próprios corpos. A chave que achavam existente debaixo de uma árvores qualquer tinhas-se sido roubada em palco. Tudo parecia demasiado cruel para n ser real. Não lhes restava uma gota de sangue.
Silêncio.
Depressão.
Rodrigo Leão.
Mil passos deambulastes e lá estavam eles, mais uma vez, sentados a beber vinho.
Sabiam bem que a conversa tinha demasiado perfume e os corpos demasiada exaustão um do outro. A dor em que sucumbiam fazia-os brilhar e sentir-se mutuamente amparados.

Depois de um jogo infantil em que as coisas adultas são reveladas sobre as fantasias da pele… um “obrigado” pelo momento.

Pisou a calçada e ao vê-la partir apercebeu-se que a noite ainda iria somente no seu início.
Os corpos que tinha visto a boiar na piscina aguardavam ansiosamente por ele.
Era o vírus do seu sangue a espalhar-se pela pele e a prender os ossos.
A cada passo surgia mais um frame do sonho que tivera ao entardecer naquele mesmo dia.
Sabia que tudo era demasiado bizarro para não fazer sentido.
Sabia que teria que abater aqueles corpos de vez.

Sentiu o seu perfume a soprar no cabelo… estava em mutação de guerra e, no meio da multidão, gozava o prazer de cada passo.
Levava a arma carregada com 3 balas bem junto às costas.
E deu início à dança.
Entre corpos cavernosos e línguas sedentas sentia o odor da morte.
Os gestos desenhados no silêncio das suas roupas mostraram-lhe o momento.
Com toda a sensualidade e calor nos lábios segura a arma e prepara-se para disparar.
O orgasmo envolto em veneno gritava como o rasgar do seu peito.
O sangue subia-lhe pelo interior da garganta e inundava a sua boca sedenta de veludo.
Nas paredes sentia-se o preparar das marcas de suor e sangue.

Silêncio.
Afinal só ali estavam duas balas.
Na confusão das luzes da cidade teria perdido uma bala… perdido ou disparado.
Os frames do sonho voltaram a surgir a uma velocidade estonteante…Os olhos azuis e inocentes da personagem principal do filme semicerravam a loucura no arrepio do seu pescoço.
Recordara-se.
Antes de chegar aos corpos flutuantes já tinha disparado sobre aquele que, silenciosamente, continuava sentado junto à piscina.

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