terça-feira, agosto 15, 2006
Black Cat
E eu que nem gosto de gatos...
Vejo-me obrigado a pensar.
(momentos antes, no carro, a caminho de casa)
- O que é aquilo?
- Um gato morto no meio da estrada...
(momento de silêncio enquanto o cadáver, intacto, assitia ao passar do carro sobre ele sem nenhum pêlo ver tocado)
- Preto.
Qual é o significado de gatos pretos?
- Para mim são sempre "sorte"...mas há tantos significados para todas as coisas.
- Estranho, tenho-me vindo a cruzar com imensos gatos pretos últimamente, por isso perguntei.
- Resolução de mistérios?
- Talvez...
Já em casa, ao som de "Metropolitain" (by Emmanuel Santarromana) sinto o chamar do cigarro.
Deslizante, embalo-me nos meus pensamentos e desço as escadas até ao jardim.
O Céu, a Lua, e a escuridão verdadeiramente negra como tecto.
O frio suspeito de uma noite de Verão.
E acendo o cigarro.
Embalado no sangue dos corpos que me povoaram neste tempos de surpresas, mergulho no equilíbrio do trapézio.
Sinto um olhar misterioso...uma visita... uns passos lentos em silêncio.
Um gato preto, mesmo junto ao portão a desafiar-me o cigarro.
Aproximo-me e, na tentativa de o espantar, percebo que vinha em equilíbrio.
O trapézio que pisava tinha como ponto de fuga o seu olhar felino e mesterioso.
A juventude do seu corpo recordava o meu.
O olhar destemido e profundo sugavam-me o último travo do cigarro.
- Se eu virar as costas desapareces?
E quando voltei, naquele parar dos relógios, em milésimos dos ponteiros maiores, ele tinha desaparecido.
Sinto o tempo da mudança...
A humidade das notícias que se aproximam. O frio das surpresas.
O calor de uma mala de cartão onde as roupas viajarão dobradas.
Sinto aquele cheiro mas hoje emana dos meus poros.
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