terça-feira, agosto 08, 2006

Sexo em Publico


Sozinho, em viagem, com o peso das malas tudo me ocorre.
Que se passou afinal esta noite para que o fizesse contigo e sobre todos os olhares de repúdia?
Que prazer e suor eram aqueles que nos cobriam de lascívia e te mergulhavam no sexo de todos os animais feridos?

Ando às voltas nun eixo de prata e terra.
Lembro-me das palavras sensatas que alguém hoje me disse ao amanhecer.

Não posso agora, nunca pude na verdade…
E penso.
Se nunca me embriaguei de ti noutras cidades mais nossas, se nunca vi mais nada para além do visível em nós… porquê agora?

Os promenores que o sémen desenhava no teu corpo constroem torres de babel agora em viagem.
Esqueço a bagagem que só pousei e calculo o estrago que fiz nos olhares que nos perseguiam.
Estranhamente sinto que em nós nada abateu… senão o mistério que encerra todo o sexo que partilhamos com o mundo.

Amanhã mesmo acordarei na nossa cidade.
Os carris que agora percorro, em fuga, trazem-me de regresso a casa para resolver outros corpos.

Somos como animais feridos a céu aberto sem qualquer moral ou pudor em tudo fazer às claras sobre os astros que nos seduzem.
Sinto-me perseguido por esse teu corpo, esse teu cheiro e esse teu suor que, nos olhos, encerra os meus ossos em chamas e easfixia.

Adormeço e escrevo.
Sonho e desenho o teu primeiro enterro em mim.



photo by Andrea Bitesnich

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