segunda-feira, outubro 09, 2006

Apetece-te?


E perdeu-se naquele olhar.

Às vezes, Jacques dava-se conta que pensar nem sempre era uma atitude correcta.
Mas também sabia que era mais forte que ele.

Anoitecera, e o cansaço subia-lhe pelas pernas sob formas estranhas e entranhadas.

Entre a multidão que, como correntes, se movimentava naquela calçada, alcança aquele olhar.

“Foda-se, apetece-te ou não?”

Era sobretudo o eco que rasgava o a sua traqueia ensaguentada. Mas dali não saíra por nada.

“E a mim apetece-me, por muito disparatado ou surreal que possa parecer!Por muito diferentes que possamos ser, por muito que as cores, em nós, tomem formas diferentes de estar… Apetece-me, porque me faz sentido!
E sinceramente não consigo perceber se te apetece sem sentido ou se te faz sentido apetecer… ou até mesmo se não te apetece por não te fazer sentido, ou se te faz sentido que não te apeteça.
Ouves-me?”


E no fundo uma gargalhada que, entre a vegetação da serra, o vendo naquele carro, o cheiro a gasolina, a calçada do bairro-alto, o barulho do aspirador, as côcegas surpreendentes…e tudo, tudo o mais se solta quando Jacques os sentiu felíz.

“Venham as bolas de sabão, ou o tal cheiro a torradas perto do tejo. O calor do sol pelas costas como gostas, ou o sol pela cara como não resisto sem sorrir… Venha tudo, mas venha apenas sem restrições, calculos ou pensamentos… fodasse, ainda hoje, apeteces-me…e faço questão de o gritar-te sem pudor, porque amanhã posso não cá estar e não quero que o deixes de saber. Estranhamente faz-me sentido, estranhamente…foda-se, eu arrisco…foda-se,apetece-me!”

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