domingo, agosto 31, 2008

Think of Cinnamon ...

Um bicho animal, um bicho do mato cujos os olhos escuros levantaram a questão num corpo tão tenro e naife. Os passos leves de uma criatura sem abrigo entre a multidão fizeram-no fechar os olhos e imaginar a grande selva que ali o abraçava. Invisível, divisível... estranho.


photo by Carlos Amaral

Olhei para ele no momento exacto em que trapezista o abordava.

Aproximei-me e ouvi:

- Até que enfim te encontro. Tiveste ausente, toda a gente tem perguntado por ti.
- Deixa-me. Esse mel que escorre das tuas presas já não me crava nada na pele.
- Estás outra vez tão bêbado e drogado...
- Estou de volta, não era o que queriam? Por inteiro...eu.
- Mas vem comigo, eu levo-te a casa...
- Tornaste-te numa personagem ridícula e nem te deste conta. Larga-me, eu já te disse. Esquece-me. Ainda agora cheguei a esta noite e tu serás a última pessoa com quem a quero celebrar.
- Estúpido...
- Eu sei que me amas. E obrigado pelo gesto em si.


Largou aquele ser e deslizou pela calçada a sós. Procurava aqueles olhos escuros, aquele bicho animal.

Não sei ao certo em que momento decidiram, não sei ao certo se houve um momento. Sei que às tantas já estavam à conversa, conseguia vê-los entre a multidão. E que de repente ele se dirige a mim e despede-se com o seu antigo abraço e baixinho diz:

- Vou-me embora entre aqueles que me tocaram a alma e não conseguiram despertar o meu corpo e aqueles que me tocaram no meu corpo e não conseguiram atingir a minha alma.
Existe uma criatura misteriosa nesta noite... a tentação hoje é um pecado que prevejo nos meus lábios.



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