segunda-feira, julho 31, 2006

Bon Voyage

“Acho perfeita a vida nesta cidade…

Aqui vivi tudo… e em tudo a calçada, pela madrugada, me surpreendeu como se descobrisse algo de novo de uma forma infantil.



Ontém falava sobre a morte que nos tráz vida e hoje o verbo rebenta, nas paredes deste quarto de hotel em L.A, com sabor a vida.

Vou ter saudades tuas sem nunca te ter dito aquilo que o chão gravou para leres num pedaço de ânimo qualquer.
Longe vão os tempos em que, entre o barulho e a multidão de flamingos, te tentava perceber na profundidade de toda a simplicidade em ti.

Hoje, sabendo que por perto não estavas… encontrei outro “tu” em “mim”.
E é isto, esta renovação de fetiches consumidos que, ainda assim, esta cidade consegue oferecer num embrulho em surpresa. Afinal os fetiches são isso mesmo, são coisas para nunca serem vividas para além dos nossos cabelos.

Recordo a música e o momento em que te dirigiste a mim… recordo os passos e os gestos de todos os olhares que sempre me rodearam na tua presença. Recordo as palavras que, surpreendentemente em mim, me custavam a sair. Recordo as poucas que saíram… recordo as horas.

Como é estranha esta forma de vida.
Sempre procurei o nome de países em cada corpo… o mundo em cada gente. E um dia, muito antes de te ver ali, solene e na companhia de alguém especial, descobri que, na verdade, já nada me entusiasmava senão o ânimo da autenticidade de todos os corpos que com o meu esbarravam. Na verdade sempre quis muito em cada olhar… porque sempre procurei pelo mais simples de cada coisa. Pelo mais “invisível” de cada gesto e pelo mais “insignificante” de cada perfume.

No teu olhar e na tua forma, reli a história que sempre trouxe como mapa de vida.
As cores e as formas em aguarela mais naifes que tudo explicam com tanta razão.

Posso nunca chegar a ti como devia… mas sentirei sempre um género de saudade do desconhecido que julguei conhecer em ti.
Tudo se levanta no regressar da catedral de todas as fantasias lascivas desta cidade.
Agora, aqui, entre um cigarro e o amanhecer, já de costas para aquele espaço onde te “alimentei”, penso… e a notícia da tua partida, sem tempo, rebenta em mim como o arrancar de um galho. E isto ainda mais estranho me soa outra vez…
A areia que esse oceano arrasta será sempre só em ti. E na areia que ele já arrastou estarei eu, sentado, num género ou forma qualquer, a tentar que a vida não me apague da memória o olhar que, depois de tanto, ainda me surpeendeu.

Gente real de tão invisível…ou real de tão intocável viverá reinados de alguma forma em mim.

Desejo-te uma boa viagem e uma boa vida ao longo dela.
Eu também, porque até nisso a vida surge perfeita aqui, farei a mesma viagem…mas para um país diferente. Perto, mas diferente.

Quem sabe um dia se, no meio da multidão, algures no espaço, ao voar sobre um cometa, não nos venhamos a econtrar outra vez.
Seria bom sinal… seria uma boa imagem da perfeição da vida aqui, em nós.”

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