domingo, julho 23, 2006

Le Noir de la Vanité

O por-do-sol anunciava o prazer daquele palco.
A relva, de tão fresca, fazia sentir vida sob os seus pés.
O desfile de todas as luxúrias já tinha começado.

Aguardavam-se apenas três presenças… a do cadávere, a da víuva e a do convidado especial.

Entre celebridades estonteantes de tanto glamour e roupagem o silêncio não existia na perfeição.
Os cadáveres já enterrados testemunhavam todas as questões por elas levantadas em sussurro.

- Nunca cheguei bem a perceber a causa da sua morte.
- Asfixia, li à pouco no jornal.
- Axfixia?…mas não foi por envenenamento?
- Foi…axfixia por envenenamento.
- Já se descobriu o autor do crime?


Silêncio. Ouvem-se passos de alguém que, desconhecido, vaguea entre a multidão.
O momento começava a suscitar interesse por parte de quem certezas não tinha.

- Quem será?
- Não sei, não lhe consigo ver o rosto.
- Será o autor?
- Não… será o cumplice.
- O cumplice?Mas o que é que você sabe que eu não sei?
- Nada… aliás, apartir de hoje saberei sempre que nunca soube nada.


O corpo discreto pára e, entre a multidão, coloca-se perto da “proa” do buraco.
As mãos deixam apenas revelar o bom gosto de um acessório brilhante. Ao tom da ocasião.

- Era tão novo… não consigo perceber.
- Pois por isso mesmo. Às vezes a juventude cobre-nos de insatez.
- Não percebi. Mas… será que nos vão fazer esperar muito tempo?Começa a ficar frio.
- Se começa a sentir frio é porque está a chegar o momento… Em tudo na vida existe um cenário montado e o de hoje será certamente detalhado…até no promenor da leve brisa.
- Começo a suspeitar de si… posso? (em tom de graça)
- Pode…aliás, deve… mas não durará muito tempo assim que souber o nome do venono usado.
- Já se sabe o nome?
- Não terá sido preciso muito para o descobrir… seria quase óbvio…
- Ai, mas diga, será preciso tanto rodeio sobre o nome…diga.
- “Désir”.

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