sábado, julho 22, 2006

FuckMeHard


A Campainha toca e o silêncio da manhã é ferozmente interrompido por todos os sons.
O perfume atrás da porta anunciava a identidade que, com raiva, fazia deslizar sangue por debaixo da porta.

- Já passaste pelas bancas hoje?
- Não, achas que sim…acabas de me acordar.
- Tens que escolher melhor os sítios onde vais e as pessoas com quem te divertes.
- Tenho?
- Deves…
- Poupa-me… se te incomoda o que lês porque continuas a contribuir para o lucro sobre mim?Não faz sentido, no mínimo, torna-te incoerente, não achas?
- Leio para te poder mostrar o que fazes. Leio para te fazer ver a vida que levas...
- Lês, porque, como todos os outros, vives presa a um só olhar. Lês, porque como todos os outros acreditas em tudo o que vês sem sonhar sequer que é tudo apenas e somente aquilo mesmo. Nem mais nem menos. Lês porque, como aos outros, aquelas palavras ignorantes alimentam-te a fantasia e a saliva nos lábios quando julgas saber de mim. Ridículo, no mínimo…
- Pára!
- Porquê?Eu tenho que acordar para te ouvir dizer isso e tu não podes, acordada, ouvir o que tenho para dizer?
- Não precisas de te defender…
- Aí é que te enganas. Não me defendo. Tento apenas defender-te a ti… da minha raiva e desprezo quando me apercebo do que pensas.
- Já pedi para parares…
- Eu também já pedi para pensares.


A campainha toca e no silêncio ficam mil conclusões a flutuar.

- Quem era?
- O carteiro.
- Alguma notícia?
- Não, apenas as revistas e os jornais que alguém, como tu, se deu ao trabalho de me enviar.
- E vais ler?
- Não, vou apenas ver as imagens para recordar o que tinha vestido e não me repetir!

3 comentários:

someofme disse...

Duvido que o texto fale de aparências... Fala sim das histórias construídas a partir de meras imagens que como todas as imagens são tudo menos inocentes. Fala dos pontos acrescentados por cada um que reconta uma história. E no final, não procuramos todos o mesmo. Porque o que motiva a personagem da história, motiva muito poucos.

someofme disse...

(e a pedido de muitas família, aqui continuo)
Há uma diferença gigante entre a busca do prazer e o prazer da busca. O comum dos mortais busca o prazer enquanto esta personagem tira o prazer da busca. E o que é essa busca? O Escândalo? O Choque? Certamente que não. Existe em toda e qualquer acção uma preocupação extrema com as aparências. O que não existe é uma necessidade de agradar aos outros. E isso conquista-se com sinceridade, verdade e frontalidade. Ninguém precisa de saber nada, porque todos sabem de tudo. Por isso não há qualquer preocupação com as capas ou as fotografias de revistas... A história é aquilo e tudo o mais que se quiser contar. Voltando ao início, quem conta acrescenta sempre algo... Ainda assim, até isso se pode tornar realidade, porque a necessidade de desmentir é nula.
Até sempre, caro T. ;)

someofme disse...

As imagens são reais porque são o captar de momentos, fugidios instantes. Por sua vez, as aparências implicam uma construção de sentido, implicam a fixação de ideias, de formas de estar, de ver e de ser visto. E acima de tudo, de teorizar à volta da forma como se vê alguém. As aparências, contrariamente às imagens, não são reais, porque não podem nunca reflectir o que somos, e apenas o como somos vistos e sentidos.
Mais perigoso ainda é confundir estes momentos com realização pessoal. A satisfação momentânea pouco traz à realização pessoal, porque esta é atingida através daquilo que vamos construindo. Coisas que perduram para além do momento. Lamento, mas o prazer não traz realização pessoal. É a realização pessoal que traz o prazer. A realização pessoal é, portanto, uma outra via para atingir o prazer e que não deve ser confundida com nada do que está neste post. :)