domingo, julho 23, 2006

Pink Flamingos II


E o tempo não tem mesmo marcha-atrás...
O tempo gira em espiral sobre todas aqueles espaços saturados de tantos suspiros.
Pela primeira vez reparo que também nós poderiamos estar em extinção. Os ciclos de caça nunca nos atingiram como neste Verão. Durante o Inverno minaram-nos os prados e hoje sentimos a bomba relógio em sintonia com os nossos pensamentos.
Estranha forma de viver sobre as nossas penas cor-de-rosa... mas mais estranha ainda foi será esta forma de quase morrer em conjunto...

- É assim... Uns vão e outros regressam.
- Pois, ninguém deve ocupar demasidado espaço em lado nenhum...
- Não foi isso...
- Geralmente vão em períodos de 2 em 2 anos.
- 2 anos ou para sempre...
- Pois, e o pior é quando é para sempre.

Continuarei a suspeitar do fenómeno... continuarei a amar todas as viagem que, em bando, fizemos sobre cada um de nós.
Continuarei a venerar o esplendor de todos os espectáculos em que coloriamos o céu sobre todos os corpos e ideias.

Mas hoje percebo... Nada é eterno e a vida, na sua perfeição, fará de todas as memórias um dos "10mais" destas nossas vidas.
Calço as botas de Peter-Pan, estico as calças sobre os tornezelos...visto o casaco de penugem cor-de-rosa e ergo a cabeça ao céu.
Levantar voo nunca me pareceu tão penoso... mas também nunca me fez tanto sentido como amanhã.
E porque a vida ainda continua de pé sobre as nossa "migrações"... venha o quase e nunca o tudo... porque para mim, existem razões que nunca morrerão em nós.

"Sempre quase mas nunca tudo… porque o tudo é individual e o quase já é divisível."

1 comentário:

AnaT disse...

Desperto só com a atenção dos sentidos, sem pensamento nem emoção.
Acordei no mar de Julho e regresso a esta praia sem preconceitos depois do sonho. Analiso cada grão cuidadosamente...Sismo com cada onda enrolada em luxúria...e um leve nevoeiro de magia absurdamente se levanta em mim; o sal que vai ficando sobre a areia parece que se infiltra lentamente, sobre estes pés descalços...este húmido coração da terra.
Sabes...as aves cor-de-rosa já não regressam a este areal nem habitam neste sonho de espuma. Vejo o teu rosto de areia no fundo do mar e oiço a tua voz no grito das aves em vertigem. É essa voz que me estrangula em saudade e fico assim neste mar alto a admirar a tua imagem e atenta ao teu silencio...
De repente...soltas um gemido, uma respiração para me dizeres que estás vivo nesse teu mundo aquático.
Raramente consigo ter a sorte de ouvir a tua voz...mas quando encontro esse momento, saem palavras puras da tua boca e sorrisos em chamas...os teus lábios incendeiam-se com plâcton brilhante como diamantes em fuga...O teu corpo adquire a forma fantástica das ondas na rebentação do crepúsculo.
Os últimos raios de sol penetram a minha pele e aquecem aquele corpo gelado que persiste em viver dentro de mim...O teu fogo expande-se pelo meu sangue em contaminação...o teu olhar será relembrado em cada reflexo de água, que de tão puro tornar-se-á mar...
Este sonho ...de que regresso, não é um fim, é o começo de outra ilusão que há-de vir ainda mais bela...
E ao mar regressam novamente as aves de paises distantes, os rosas e os brilhos das plumas, o ritmo alucinante das ondas, as noites estreladas e os beijos molhados, a terra quente e o teu sorriso...sempre mergulhado em profundo desejo...