segunda-feira, abril 03, 2006
Âmago
“ Vagueando pelas ruas Pietro sabe bem que o tempo escassea. Não corre porque na vida sempre aprendeu que de nada valia correr quando a mesma distância se podia percorrer a um compasso normal. Trazia com ele um mundo de pensamentos sobre os seres a quem ele cedia o destaque no seu cartaz.
Na mão levava um livro em branco porque em branco ele gostava de manter os olhos mais curiosos.
“Mas quem me diz a mim afinal que eu tenho que optar por isto ou aquilo senão eu mesmo?…se para mim não tem qualquer importância o rótulo em mim, porque raio não posso viver bem desta forma?…ora ora caro amigo… para mim já existem demasiadas prisões, como as de não ter asas, quanto mais estar a comprar outras tão mal esculpidas pelos outros que nada sabem.” – dizia ele num tom irónico mas sereno ao seu amigo de grandes assuntos ao caminhar para o café.
Junto à estrada, sempre a pisar canteiros, decidiu parar.
A luz da cidade estava naquele exacto tom que não existe em mais lado nenhum.
O barulho dos carros confundia-se com os dos pássaros que anunciavam o que ali vinha.
Era ele, do outro lado da estrada.
Deserto e petreficado ficou a contemplar a inocência daquela figura. Só um louco estaria naquele local à espera do nada.
Parou um carro e a inocência transformou-se em vinho… o vinho em alcool puro…e o alcool em sangue.
Sorrira-lhe minutos antes de entrar no carro. Aquele sorriso de quem sabia que outros olhos o viam e nada fazia, no encenar do seu gesto, que o denunciasse.
Iria começar a correria…iria mudar o compasso. Ele estava por perto e a viagem aproximava-se da insanidade naquele vinho.
Sorrio, olhou para o seu companheiro de caminho e disse: “Bem, estava a ver que nunca mais chegavamos aqui hoje. Ao que esta cidade nos obriga por um café decente.” …“
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