segunda-feira, abril 17, 2006

White Body


É um corpo, são dois corpos…podem ser até uma infinidade deles.

Sob o silêncio da noite corpos solitários vagueam pelas casas.
Podem não estar demasiado sós para se passearem pela rua…mas em casa é mais seguro. Em casa, no escritório, num espaço qualquer cuja a segurança seja dada por quatro paredes.
É uma nova forma de estar, uma nova forma de ser.
É uma nova forma de comunicar, uma nova forma de gritar sem pudor. De viver a fantasia dos seus próprios corpos e as ilusões das suas mentes. É uma nova forma de poder ser mágico e desenhar o seu próprio percurso ou expressão nos olhos de alguém.

Depois do um longo suspiro sente-se só.
Bebe um copo de água, come um chocolate mas sabe onde irá parar.
Senta-se e por lá ficará horas.
O teclado transforma-se a sua pele e as fotografias que partilha, verdadeiras ou falsas, reais ou graficadas, passam a ser a sua imagem.
No escorrer das palvras define-se em mil fantasias de si mesmo e tenta encontrar alguém semelhante.
Consome uma lista imensa de pessoas igualmente virtuais…poucos são os que realmente conhece. Mas é nos outros, nos apenas virtuais, que encontra o calor que o ampara naquela noite.

São brancos e inexpressivos.
São frios e sentem-se livres.
São os brancos independentes de si mesmos…na luta contra as cores que lhes revelam o sangue. São ossos desconfigurados, são carne incolor. São olhos secos nos cabelos ávidos pelo risco e carrocel do “tudo poder”.

São as criaturas virtuais que se passeam nas ruas. Na noite da cidade ou na dia do campo. São fragmentos de mil imagens colados com precisão. São materiais cintilantes que derramam sons dos quais muito pouco sabemos.

É uma dança num salão antigo. É um bailado de vaidades sofridas pela ausência de afectos.
Nesse bailado tudo desfila…os promenores são as armas de atenção. As cores pouco traduzem senão uma infinidade de códigos lascivos.

Sobem-lhes os gostos e os sabores simples e amargos que morrerão, invariavelemente num, sorriso estampado de um qualquer rosto branco.
Dentro das roupas palpitam as veias com o fernezim de mil acontecimentos…mas a calma da dança embala-os e nada é permitido transpirar.

São os cadáveres em que se transformam durante aquelas horas em que a vida deles socumbe a cada segundo.
Exaustos ou atrasados para uma coisa qualquer terminam a dança e retiram-se do salão. Um a um porque num andam aos pares. E saiem tirando a máscara branca e voltando a dar vida ao corpo escondido que, nem por isso, se torna real.

É um novo corpo a branco, é uma nova forma de fascinante demência.

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